16 travestis ou transexuais foram mortos no CE em 2017



Paola Oliveira, presente. Dandara dos Santos, presente. Hérica Isidoro, presente. Pinha Priscila, presente. Jennifer, presente. Ketlin, presente. Julhão Petruk, presente. Salomé Bracho, presente. Rayane, presente. Larissa, presente. Gabriela Sousa, presente. Natália Moura, presente. Nega Maradona, presente. Priscila, presente. Canoa, presente. Além de outras três pessoas que não chegaram nem a serem identificadas. Pelo menos 16 travestis ou transexuais foram executadas, no Ceará, em 2017, conforme o observatório de violência Rede Trans Brasil.
O termo 'presente' é utilizado por movimentos sociais para que as vítimas não caiam em esquecimento. O número registrado neste ano, até o momento, no Estado, representa um aumento de 166,6%, em relação a todo o ano de 2016, quando houve o registro de seis travestis ou transexuais assassinadas em território cearense.
Ainda de acordo com a Rede Trans Brasil, 173 travestis ou transexuais foram mortos, em todo o País, em 2017. O Ceará é o terceiro Estado com o maior número de ocorrências, estando abaixo apenas de São Paulo (20 casos) e Minas Gerais (18 casos) e igualado à Bahia (16 casos). O número registrado no Ceará representa 9,24% de todas as mortes ocorridas no Brasil.
Tel Cândido, o coordenador do Centro de Referência LGBT Janaína Dutra - instituição que atua em Fortaleza auxiliando o público LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais) - acredita que o aumento expressivo de homicídios de travestis e transexuais, em todo o Estado, se dá em decorrência de um conjunto de fatores sociais.
"Estamos observando o avanço do discurso fascista e conservador e o empobrecimento internacional de políticas públicas. O assassinato de uma pessoa LGBT é um estrato simbólico de um enorme drama de violência e vulnerabilidade social que esse público experimenta dia a dia. A violência não está dissociada da renda e do acesso à educação, saúde, emprego e moradia", afirmou Tel Cândido.
As causas sociais não estão desligadas do ódio, presente na maioria dos crimes, para Cândido. Ele conta que, quando procura a Polícia para obter mais informações sobre os homicídios, recebe, muitas vezes, a resposta de que se tratou de um crime de violência urbana comum ou de um latrocínio.
"Quando levantamos os dados, a característica aponta para crime de ódio. A média de tiros nos crimes é superior a quatro, por vítima, no mínimo. Na maioria dos casos, o Centro de Referência não obteve a informação de quantos disparos foram efetuados. Nos casos de armas brancas, são mais de 23 perfurações por pessoa. Quem vai roubar não precisa atirar quatro vezes ou dar 23 facadas, certo?".
Tel Cândido avalia que as autoridades policiais e judiciárias precisam ter mais sensibilidade nos crimes contra LGBTs. "Existe uma necessidade de uma apuração mais sensível. Quando eu falo nisso, é considerar contextos de vida, atravessamento da LGBTfobia, a vulnerabilidade da pessoa, para formar uma denúncia mais qualificada".
Procurada pela reportagem, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) não se manifestou sobre o assunto, até o fechamento da matéria.

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