Mulher de Gegê acredita que marido foi morto por ‘pessoas próximas’

Até então líder do PCC fora da prisão, o criminoso foi executado em Fortaleza.
20 DE FEVEREIRO, TERÇA-FEIRA
Em depoimento à polícia, a mulher de Rogério Jeremias de Simone, conhecido como Gegê do Mangue, disse que o marido pode ter sido morto por “pessoas próximas”. Gegê era o principal líder, fora da prisão, do Primeiro Comando da Capital (PCC). Morto no sábado, Gegê, segundo as investigações, teria sido alvo de integrantes do próprio grupo, depois de mandar matar outro criminoso do PCC sem consultar a principal liderança da facção, Marcos Willians Camacho, o Marcola.
— Alguém próximo pode ter feito isso, pois nem mesmo eu sabia da localização do meu marido — disse Andrea Soares Maciel, mulher de Gegê.
Ele e o parceiro Fabiano Alves de Souza, o Paca, foram encontrados mortos na última sexta-feira em Aquiraz, na Região Metropolitana de Fortaleza, no Ceará. Estavam em uma reserva indígena com sinais de execução: tiros na cabeça e facadas nos olhos. A polícia ainda investiga a motivação dos assassinatos.
— Possivelmente, a morte tenha sido a mando do próprio PCC. Talvez tenha ligação com a morte, algum tempo atrás, do Birosca, por determinação do Gegê, mas sem consultar os líderes que estavam no RDD (Regime Disciplinar Diferenciado) — disse o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, do Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco) de São Paulo, um dia depois do crime.
Birosca é o apelido de Edilson Borges Nogueira, apontado como o “financiador” da facção. Ele foi assassinado dentro do presídio de segurança máxima de Presidente Venceslau em dezembro.
Outra hipótese, ainda não descartada, é que eles tenham sido mortos por integrantes de facções rivais. Porém, essa teoria é menos provável, já que não há evidências de que outras facções soubessem do paradeiro de Gegê e Paca.
No depoimento, obtido com exclusividade pelo GLOBO, Andrea afirma que conhece Marcola e que o marido não tinha problema com ele. Diz que, em nenhum momento antes do crime, percebeu mudança no comportamento de Gegê que sugerisse algum risco. Segundo ela, os dois estavam juntos até horas antes do assassinato.
Segundo o documento, Andrea viajou de São Paulo a Fortaleza em setembro do ano passado. Em seguida, logo depois do fim do ano letivo, chegaram sua cunhada, Renata, a sogra e dois filhos (de dois e 13 anos). Mais tarde, juntaram-se a eles Juliana, a mulher de Paca, e os filhos do casal. Andrea acrescenta que ficaram hospedados no Alphaville Resort, no bairro de Aquiraz.
A mulher de Gegê afirmou que, por volta das 8h30 do dia 15 de fevereiro, quinta-feira passada, a família dos dois integrantes do PCC partiram de Fortaleza rumo a São Paulo num ônibus fretado. Os depoimentos de Renata, a irmã de Gegê, e Juliana, mulher de Paca, também obtidos pelo O Globo, confirmam as declarações de Andrea.
De acordo com Juliana, Gegê do Mangue e Paca foram se despedir da família antes da partida. No mesmo local, pegaram um 
helicóptero com um piloto e mais um passageiro e seguiram para um lugar desconhecido delas. Paca, segundo o documento, disse que demorariam em torno de três a quatro dias para chegar ao destino. Depois do adeus, Gegê enviou uma foto para Andrea que mostrava o mar e parte de um matagal. Em seguida, Paca mandou à mulher uma mensagem de texto: “oi, amor. Graças a Deus tudo na paz”. Horas mais tarde, souberam da notícia do assassinato pela mídia. Disseram ter reconhecido os corpos pelas tatuagens.
Antes de deixarem a casa em Alphaville, Gegê e Paca fizeram as malas com todos os objetos de valor que tinham ali.
Gegê ficou detido em Presidente Venceslau por sete anos. Sua defesa argumentou que a prisão era irregular, pois ele ainda não havia sido julgado, e obteve um habeas corpus no ano passado. Fora da prisão, Gegê não compareceu ao próprio julgamento, em abril de 2017, e desde então estava foragido. Nesse julgamento, ele foi condenado a 47 anos de prisão por dois homicídios triplamente qualificados.
Ele conhecia bem o funcionamento do PCC e tinha habilidade para dialogar com facções rivais. Era descrito como violento e adepto da estratégia de usar o terrorismo como método para enfrentar o Estado. Condenado a 14 anos, três meses e um dia de prisão por tráfico de drogas, homicídio, ameaça e associação criminosa, o bandido passou por 15 penitenciárias diferentes.
A ascensão de Gegê no PCC foi percebida pela polícia em 2003, quando ele foi acusado de envolvimento na brutal execução do juiz corregedor Antônio Machado Dias, de Presidente Prudente, conhecido pelo estilo linha-dura ao vetar regalias para presos. A Justiça considerou que Gegê foi autor de um bilhete, apreendido por policiais, no qual informava a Marcola que a operação para matar o juiz tinha sido um sucesso.

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