Ex-presidente do Peru é preso acusado de envolvimento em esquema da Odebrecht



O ex-presidente do Peru Alejandro Toledo, que comandou o país de 2001 a 2006, foi preso nos Estados Unidos para que seja cumprido um "mandato de extradição". A informação foi divulgada pela Procuradoria peruana nesta terça-feira (16).
A detenção visa obrigar Toledo, segundo procuradores peruanos, a comparecer a sua "primeira audiência com as autoridades judiciais dos EUA, como parte de um processo cujo objetivo é conseguir o retorno dele ao país".
O ex-presidente é alvo de dois mandados de prisão sob acusação de ter recebido suborno de US$ 20 milhões (cerca de R$ 75 milhões em valores nominais) da construtora brasileira Odebrecht. Toledo é acusado também de ter praticado lavagem de dinheiro, que é o crime de dar aparência legal a recursos de origem ilícita. O caso ficou conhecido no Peru como "Ecoteva".
Há também um mandado de prisão contra sua mulher, Eliane Karp, também por acusação de lavagem de dinheiro.
Toledo e Karp negam todas as acusações. Ambos vivem na Califórnia desde o início de 2017, época em que a Justiça peruana emitiu os mandados de prisão.
Suspeitas de pagamentos milionários
Ex-diretor da Odebrecht no Peru, o engenheiro baiano Jorge Barata disse aos procuradores do país andino que a construtora pagou US$ 20 milhões a Toledo em troca de contratos de concessão de dois trechos da Rodovia Interoceânica Sul, uma estrada binacional que liga o Brasil ao sul do Peru, partindo do Estado brasileiro do Acre.
O contrato com a Odebrecht para essas obras foi fechado em 2005.
Em junho deste ano, o empresário peruano-israelense Josef Maiman afirmou aos procuradores peruanos que tinha recebido US$ 25 milhões da Odebrecht - e que esse dinheiro seria, na verdade, suborno para Alejandro Toledo.
O caso, que ficou conhecido como "Ecoteva", veio a público em 2013, quando investigadores peruanos descobriram a compra de uma casa e um escritório em Lima por cerca de US$ 5 milhões em nome da sogra de Toledo, Eva Fernenburg. As propriedades foram adquiridas com o dinheiro de uma empresa na Costa Rica, chamada Ecoteva.
As autoridades suspeitam que o dinheiro que pertencia oficialmente à Ecoteva seja fruto de corrupção, e que a empresa tenha sido usada para lavar os recursos.
Como o escândalo da Odebrecht atingiu o Peru
Em dezembro de 2016, o Departamento de Justiça (DoJ) dos Estados Unidos tornou público o acordo de leniência fechado com a empreiteira brasileira Odebrecht e com a Braskem - empresa petroquímica fruto de uma parceria da Odebrecht com a Petrobras.
No documento, a Odebrecht admitiu ter pago cerca de US$ 29 milhões em propinas a autoridades peruanas entre 2005 e 2014. Estes pagamentos teriam resultado em benefícios de US$ 143 milhões para a empreiteira no mesmo período.
No fim de 2016, o governo peruano decidiu proibir a participação da Odebrecht em obras públicas naquele país - o que forçou a empreiteira a colaborar com as autoridades peruanas.
Em fevereiro de 2019, a empreiteira finalmente assinou um acordo de colaboração com os promotores da Lava Jato no Peru, no qual se comprometeu a fornecer informações e pagar uma indenização de cerca de US$ 230 milhões.
Além de Peru e Brasil, a empreiteira admitiu à Justiça dos Estados Unidos ter pago propinas em mais dez países, na África e América Latina, no total de US$ 788 milhões. Brasil e Peru são os países onde as investigações mais avançaram.
Quatro ex-presidentes envolvidos
Com a detenção de Alejandro Toledo, chega a quatro o número de ex-presidentes peruanos que foram alvos de mandados de prisão decorrentes do escândalo da Odebrecht. Todos negam as acusações.
Em abril deste ano, Alan García (2006-2011), cometeu suicídio ao saber que seria preso preventivamente em razão de suspeitas de envolvimento no escândalo.
No caso de García, a Promotoria peruana investigava o ex-presidente por ter "um papel importante" na execução do metrô de Lima, obra na qual a Odebrecht teria pago propinas.
Entre as suspeitas contra García, estava o recebimento de US$ 100 mil da Odebrecht por uma palestra dada na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), em 2012. Na ocasião, o peruano falou sobre comércio e investimentos externos.
Também em abril, o braço peruano da Lava Jato também resultou na prisão preventiva de outro ex-presidente do país, Pedro Pablo Kuczynski, em decorrência das investigações.
Kuczynski elegeu-se presidente do Peru em 2016, para um mandato que deveria continuar até 2021 - ele acabou renunciando em março de 2018 por causa das acusações, que ele refuta.
Segundo documentos da inteligência peruana, empresas ligadas a PPK teriam recebido dinheiro da Odebrecht e repassado as quantias para a conta do presidente.
As transferências teriam sido feitas entre 2005 e 2016, quando PPK foi ministro da Economia, primeiro-ministro e candidato presidencial, segundo reportagem do El Comercio, de Lima.
Finalmente, Ollanta Humala, que governou o Peru entre 2011 e 2016, foi preso preventivamente no ano passado e hoje aguarda julgamento em liberdade. 
Terra.

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