Gastos com internações por Covid custam R$ 15 mi a mais que a soma de todas as hospitalizações no CE

06/04/2021 > TERÇA-FEIRA

Em 2020, o Estado gastou R$ 68,9 milhões com internações de pacientes infectados pela Covid-19. Ao todo, foram 17.997 hospitalizações na rede pública. Este montante financeiro é superior à soma de todos os recursos gastos com outras internações, dentre as quais, septicemia, infarto agudo do miocárdio e pneumonia. Os números são do IntegraSus, plataforma oficial da Secretaria da Saúde (Sesa) do Ceará.
A Capital cearense lidera o ranking de internações e valores aplicados. No ano passado, foram 7.106 hospitalizações e pouco mais de R$ 35 milhões direcionados ao tratamento destes pacientes. O Hospital Leonardo da Vinci – aberto exclusivamente para tratamento de infectados com Covid-19 – foi o que recebeu mais pacientes: 1.026 (pouco mais de R$ 10 milhões), seguido pelo Hospital Geral de Fortaleza, que teve 929 internações, com R$ 6,1 milhões aplicados.

Sobral, na região Norte, aparece na segunda posição das cidades cearenses com mais hospitalizações: foram 1.806 e R$ 9,2 milhões gastos. A Santa Casa de Misericórdia de Sobral foi a que mais internou no Município: 4.835 e pouco mais de R$ 6,7 aplicados. Em seguida aparece o Hospital Regional Norte (HRN), com 3 mil hospitalizações e R$ 4,8 milhões gastos.

Altos valores

A economista e doutora em saúde coletiva Helena Lima explica que as internações por infecção da Covid-19 têm uma gama de especificidades que aumenta os custos em relação às demais hospitalizações.

A especialista, que também é professora visitante da Universidade Estadual do Ceará (Uece), ressalta também que, no caso de outras internações, como pneumonia ou infarto, o paciente nem sempre precisa de UTI, "diferente do que ocorre com os pacientes infectados pelo novo coronavírus".

Desta forma, acrescenta Lima, a estrutura – que envolve profissionais, materiais hospitalares, medicamentos e serviços – necessária para tratar esses pacientes se apresenta ainda mais complexa e consequentemente mais cara. A soma de todos esses fatores converge no alto valor necessário para custeio das internações por Covid.

"Um paciente internado por decorrência da Covid exige uma série de exames, requer multiprofissionais e demanda mais insumos, como oxigênio. Nas outras internações, nem sempre é preciso o uso de oxigênio, por exemplo. Então essa maior necessidade culmina em valores tão altos", disse a Doutora Helena Lima.
Medicamentos

Por se tratar de uma doença nova, que até então não se tinha nenhum conhecimento, diversos medicamentos e materiais hospitalares que passaram a ser utilizados no ano passado não faziam parte do leque de cobertura do SUS. Diante desta ausência, muitas compras foram realizadas sem licitação o que, na avaliação da economista, "deixa os preços mais caros".

Essa prática, embora não seja ilegal dado à circunstância em que ocorreu, deve ser revista. Helena Lima alerta que é preciso ter maior eficiência nas compras e "muito rigor" para que seja identificado quais itens estão onerando o Estado. Ela destaca a importância da utilização de sistemas de custos, já habituais nos hospitais, "para se ter controle dos gastos e ser possível equacionar essa conta".

Previsão de aumento

Para este ano, a especialista projeta valores ainda mais altos gastos com as internações por infecção da Covid-19. Duas das razões que sustentam essa tese é o aumento do tempo médio que cada paciente permanece internado e a expansão dos leitos de UTI.

"Mais leitos, mais recursos. O custo de cada UTI é muito alto. Portanto, ao fim deste ano, devemos ter cifras ainda maiores. Soma-se a isso o tempo de internação que aumento nesta segunda onda. Esta cepa está mais letal e os pacientes evoluem mais rapidamente, então é preciso mais insumos, mais profissionais dedicados, enfim, o cuidado ao paciente com Covid é quadruplicado", avalia.

Um termômetro deste provável aumento dos custos ao fim de 2021 é a taxa de ocupação das UTIs. Helena lembra que no ano passado, esse índice não se estabilizou na casa dos 90%, diferente do que ocorre agora, com hospitais corriqueiramente com taxa de ocupação beirando os 100%. Atualmente, conforme dados da Sesa, a taxa de ocupação para as UTIs do Ceará é de 91,75%.

Apenas uma internação

No lado oposto da tabela dos municípios com salto de hospitalizações, estão cinco cidades que ao longo de todo o ano passado só registram uma única internação: Ererê, Nova Olinda, Pereiro, Guaiúba e Croatá. Essa última é, inclusive, a que menos gastou dinheiro com a hospitalização. Segundo o IntegraSus, consta o valor de apenas R$ 52,22.

O Diário do Nordeste entrou em contato com a Sesa para que a pasta pudesse explicar e detalhar os números que constam no portal IntegraSus. No entanto, não houve retorno.

Fonte: Diário do Nordeste


Related Post

Gastos com internações por Covid custam R$ 15 mi a mais que a soma de todas as hospitalizações no CE BLOG DO CARLOS DEHON Rating: 5 terça-feira, 6 de abril de 2021

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...