A realização da primeira audiência pública sobre agronegócio em 154 anos de história de Quixadá representa um marco histórico na relação entre poder público e sociedade. Ao criar este espaço, a Câmara Municipal, por iniciativa do vereador Pedro Neto, rompeu com uma secular cultura política de distanciamento, permitindo que as vozes dos produtores rurais – especialmente os pequenos e médios – fossem formalmente ouvidas. Com a presença de instituições-chave como os próprios Vereadores de Quixadá, a Secretária de Agricultura municipal, a Secretaria do Desenvolvimento Agrário do Ceará (SDA), ADAGRI, EMATERCE, BNB, COAPECE, AISC (Associação da Imprensa do Sertão Central) e SINDRADIOCE, o ato transcendeu o mero protocolo parlamentar: configurou-se como um reconhecimento institucional das angústias de um setor vital para a economia local. Demandas por uma Secretaria de Agricultura efetivamente estruturada (com orçamento adequado, corpo técnico qualificado e infraestrutura operante), que ecoam há anos sem resposta, ganharam palco oficial. O evento transformou reclamações fragmentadas em um diagnóstico coletivo e documentado, conferindo legitimidade política inédita a reivindicações que, embora conhecidas, nunca haviam sido objeto de deliberação pública organizada.
O potencial agropecuário de Quixadá, evidenciado por rebanhos de alto padrão genético e a presença de duas faculdades de veterinária, contrasta de forma gritante com a ausência de políticas públicas efetivas. A audiência expôs essa contradição de forma cristalina: de um lado, uma cadeia produtiva com vocação natural e capital humano qualificado; de outro, a crônica incapacidade do poder municipal em fornecer a estrutura mínima para seu desenvolvimento. Os “gargalos” apresentados não são novidades, mas sua formalização em um espaço oficial cria uma responsabilidade histórica para vereadores e executivo municipal. A mesa diretora da Câmara, liderada pelo presidente Luiz Neto, tem agora o desafio imperativo de transformar esse evento pioneiro em um processo contínuo, convertendo as demandas em ações legislativas e fiscalizadoras concretas – sobretudo na garantia de uma secretaria que funcione como instrumento de fomento, e não como peça decorativa.
A ausência da imprensa escrita e falada na audiência, entretanto, lança uma sombra preocupante sobre esse avanço democrático. Tal omissão coloca em xeque o próprio papel social da mídia local: se temas estruturantes como o desenvolvimento econômico via agronegócio não merecem cobertura, que esperança resta de uma esfera pública verdadeiramente vibrante? A aparente preferência por “assuntos negativos e politiqueiros”, como sugerido, reflete uma distorção perversa que priva a sociedade de narrativas construtivas e de controle social efetivo. Este desinteresse midiático é sintomático do mesmo abandono denunciado pelos produtores – um ciclo vicioso em que a falta de visibilidade alimenta a inação política, e a inação reforça o cinismo social. Superar essa lógica exige não apenas mais audiências públicas, mas uma pressão coletiva para que a mídia local assuma também o seu papel de agente do desenvolvimento, dando voz às iniciativas capazes de, de fato, reescrever o futuro de municípios como Quixadá.
“Se o campo não cria e não planta, a cidade não toma café, não almoça e nem janta.”
Wanderley Barbosa
Jornalista e Radialista Profissional
Delegado do SINDRADIOCE
Presidente da AISC e Associado da ACI
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