Junho chegou. E, com ele, o cheiro de milho cozido, as bandeirinhas no céu, os arrasta-pés nas praças e os corações aquecidos pelas tradições que nos formam. Para quem nasceu ou vive no interior do Ceará, os festejos juninos não são apenas eventos culturais — são expressões de identidade, resistência e orgulho. Como jornalista que vive a comunicação regional há muitos anos, e sendo nascido na cidade de Tauá, no interior do Ceará, não há período do ano que me agrade mais. E é justamente por isso que a imprensa regional tem, nesse momento, uma das suas missões mais nobres: valorizar quem somos, de onde viemos e para onde vamos.
Muito além das grandes coberturas nacionais, é no interior que pulsa uma força criativa, econômica e simbólica que precisa ser enxergada com o respeito que merece. Cada grupo folclórico como as bandas cabaçais, penitentes, quadrilhas juninas que se apresentam em Barbalha, na tradicional Festa do Pau da Bandeira de Santo Antônio; cada sanfoneiro que sobe ao palco do Juaforró, cada fogueira acesa nas ruas de Juazeiro do Norte; cada vaqueiro que se arrisca na pega do boi na Vaquejada de Missão Velha, cada expositor que vibra e apresenta os seus produtos e animais que produz no campo carrega uma história de luta, superação e pertencimento. E cabe a nós, veículos regionais, contar essas histórias — com profundidade, com paixão e com verdade.
A comunicação regional não deve ser vista como um “braço menor” da grande mídia. Ao contrário: ela é o coração pulsante da informação que se aproxima da realidade do povo. Enquanto muitos ainda enxergam o Cariri, o Sertão Central, a Região dos Inhamuns, as Chapadas do Araripe, Apodi e Ubajara ou o Vale do Jaguaribe como “periferias do Brasil”, nós sabemos que essas regiões são centros vivos de cultura, economia e desenvolvimento.
E isso se reflete nos festejos. Os eventos juninos movimentam turismo, geram renda, empregam milhares de pessoas direta e indiretamente. Desde o vendedor ambulante ao técnico de som, do costureiro de figurino ao pequeno produtor rural. Quando a imprensa decide mostrar esse lado da festa, ela cumpre um papel que vai além da reportagem: ela reconhece o valor do povo.
Nas últimas décadas, vi muitas histórias que nasceram pequeninas em comunidades do interior ganharem o mundo através da tela da TV. Vi também como um olhar atento da reportagem pode mudar a realidade de famílias inteiras. E é por isso que, especialmente em momentos como este, reafirmo esse compromisso — e convido meus colegas de profissão a fazerem o mesmo: vamos olhar para dentro. Vamos iluminar o que é nosso.
Em tempos de tanta polarização e distanciamento das raízes, os festejos juninos são um lembrete poderoso de união, fé e alegria. E a imprensa regional tem o privilégio e a responsabilidade de amplificar essas vozes. Mais do que cobrir o São João, vamos celebrar o Ceará que dança, canta, cria e resiste. Porque, no fim das contas, somos todos parte dessa grande fogueira que aquece a alma nordestina.
Hermann Hesse
Diretor de Jornalismo da Band Ceará
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