Bancoc, dezembro de 1993. Ainda um jovem repórter, cigano como todo cearense, chego à sede da polícia de imigração da Tailândia e dou de cara com Elma Farias, mulher de PC Farias (empresário alagoano e tesoureiro da campanha eleitoral do ex-presidente Collor) desesperada, mãos segurando firme os cabelos, maquiagem borrada de tanto choro, em desabafo diante das câmeras de tevês:
"O que o Paulo César fez foi conseguir fundos de empresários para a campanha de Collor. Por que só o Paulo César? Ele não agiu sozinho. Tem alguém que mandou e o chefe maior foi quem mandou”, dizia.
Naquele momento de agonia, ela tentava visitar, em vão, o marido PC, que acabara de ser preso pela Interpol, depois de uma fuga espetacular da Justiça brasileira que durou quase seis meses. O tesoureiro, acusado pela Polícia Federal de ter montado um esquema de corrupção na máquina do governo, foi para a cadeia. O amigo Collor sofreu processo de Impeachment, perdeu o cargo, mas se livrou de ser preso por decisão do STF.
A situação revoltava não apenas Elma, mas boa parte dos brasileiros. Dos estudantes “caras pintadas” que foram às ruas pedir a queda do falso “caçador de marajás” às famílias que sofreram confisco do pouco dinheiro que guardavam em cadernetas de Poupança.
A prisão do ex-presidente não tem relação direta com o período em que esteve no Palácio do Planalto, óbvio, mas o gosto de justiça, mesmo que tardia, escorre no canto da boca de milhões de cidadãos e cidadãs prejudicados por um dos mais esnobes e arrogantes políticos desse país.
Condenado a oito anos de cadeia por ter recebido propina no valor de R$ 20 milhões da UTC Engenharia — em troca de contratos de BR Distribuidora —, Collor vive o momento de maior decadência. Sem mandato no poder, sem liberdade e, ao que tudo indica, deve ficar também sem o contrato com a Globo, que luta juridicamente para desfiliar a TV Gazeta de Alagoas da sua rede de retransmissoras. Sim, a história capota em pleno abril de 2025.
(*) Diário do Nordeste
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