Os resultados das Eleições 2024 marcaram algumas vitórias consideradas históricas pela oposição ao Governo do Ceará. Terceiro e quinto maiores colégios eleitorais do Estado, respectivamente, Juazeiro do Norte e Sobral evidenciam o novo redesenho do grupo político que está do lado oposto ao campo liderado pelo ministro Camilo Santana (PT) e pelo governador Elmano de Freitas (PT).
Além dos dois casos no interior do Estado, o grupo de oposição pode faturar o comando da Prefeitura da Capital. Isso, porque André Fernandes (PL) chega ao segundo turno à frente de Evandro Leitão (PT) no número de votos, desbancando candidatos como o atual prefeito José Sarto (PDT) e Capitão Wagner (União).
Na comemoração após o resultado da primeira parte do pleito, na noite do último domingo (6), o próprio candidato bolsonarista citou que conta com o apoio de Glêdson Bezerra (Podemos), reeleito em Juazeiro, e Oscar Rodrigues (União), vencedor em Sobral, na segunda etapa da disputa pelo Paço Municipal, o que reforça sua posição de destaque na oposição.
Para a coordenadora do Laboratório de Estudos em Política, Eleições e Mídia (Lepem/UFC), Monalisa Soares, será preciso mais tempo para entender o panorama geral desses desempenhos, principalmente pensando de que forma isso pode se consolidar como um “projeto único de oposição” que pretende se fortalecer para o pleito de 2026.
“O peso dessas vitórias é significativo, elas sinalizam coisas para o grupo no poder, especialmente para o ministro Camilo Santana de um lado e para os Ferreira Gomes do outro. Mas, para dizer o quanto que elas vão impactar do ponto de vista do peso e da força das oposições, vamos ter que esperar para ver em que medida esses grupos vão conseguir se articular para compor de fato uma oposição ao grupo que está dominante no Estado, lê-se o ministro de Camilo Santana, que é uma grandessíssima liderança, e o senador Cid Gomes”Monalisa Soares
Coordenadora do Laboratório de Estudos em Política, Eleições e Mídia (Lepem/UFC)
FIM DE UMA ERA
Na maior cidade da região Norte, Oscar Rodrigues (União) quebrou a hegemonia do grupo político dos Ferreira Gomes – há 28 anos na gestão da cidade, ao superar a concorrência da ex-governadora Izolda Cela (PSB), da ala governista. "Foi um trabalho árduo, muito difícil, realmente. Estávamos trabalhando contra a máquina [pública], uma máquina pesada, a gente sabe disso”, ressaltou após a eleição.
Monalisa Soares avalia que a derrota de Izolda em Sobral é emblemática pelo fato dela ser uma candidata que condensava todo esse movimento do grupo mais situacionista, com apoio de Camilo e Cid.
“É um caso em que você vê claramente um cansaço, digamos assim, de um acumulado de muitos anos de dominância do mesmo grupo político. É importante lembrar que as últimas eleições já vinham sendo mais competitivas, a de 2020 foi mais competitiva. Então, a gente chega agora em 24 também com a recomposição dessa competitividade e a vitória da oposição”, explica a pesquisadora.
Por sua vez, Monalisa Torres, professora de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece), vê o resultado no município como simbólico ao indicar um processo de reordenamento das forças políticas e o enfraquecimento dos Ferreira Gomes, sobretudo de Cid.
“A gente está vendo esse redesenho do quadro das forças políticas e eu acho que a quantidade de partidos que vai sair dessas eleições vai indicar um pouco a força ou a fragilidade desses grupos, e com foco nessas cidades que são chaves, tanto do ponto de vista do empenho que determinada liderança teve, quanto da base eleitoral histórica, do reduto eleitoral histórico, a exemplo de Sobral para os Ferreira Gomes e Fortaleza para Camilo Santana”Monalisa Torres
Professora de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece)
(*) Diário do Nordeste
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