Despoluição de rios é desafio para cidades paulistas

Testes com dois barcos coletores de resíduos flutuantes, os chamados Ecoboats, no rio Pinheiros, em São Paulo.
O governo de São Paulo anunciou no início deste mês investimentos de R$ 2,5 bilhões para obras de saneamento, incluindo infraestrutura de saneamento, na bacia do Rio Pinheiros. Os financiamentos permitirão a execução de obras rumo à universalização da oferta de água e do sistema de esgoto nas regiões de maior vulnerabilidade social, impactando diretamente na despoluição dos principais rios da metrópole.
Na ocasião foi anunciada a assinatura dos quatro primeiros contratos com as empresas que estão iniciando parte dos pacotes de obras do Novo Rio Pinheiros, o programa que prevê intervenções de saneamento e socioambientais com o objetivo de devolver o Rio Pinheiros limpo à população até 2022.
“Os investimentos englobam os rios Pinheiros e Tietê. Nosso compromisso prioritário é despoluir o Rio Pinheiros e entregá-lo limpo à população da cidade de São Paulo até dezembro de 2022. O Rio Tietê é mais complexo, vai levar um período mais longo para ser despoluído, mas o trabalho é contínuo”, afirmou o governador João Doria, no dia da assinatura dos contratos.
Exemplo do interior
Enquanto na capital a despoluição do Rio Pinheiros ainda está em andamento, a 60 km da metrópole, em Jundiaí, o rio que dá nome à cidade vem passando por uma transformação importante nos últimos 30 anos. O rio – que já foi enquadrado na classe 4 (quase morto) – hoje tem peixes e é considerado classe 3, quando as águas podem ser destinadas ao abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional ou avançado.
A classificação, normatizada pela Resolução 357 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), segue uma escala de 1 a 4 - quanto menor o número, mais rígida é a fiscalização e, por consequência, a penalidade pelo descumprimento das leis.
De acordo com o diretor da Companhia Saneamento de Jundiaí (CSJ), Luiz Pannuti Carra, o trabalho de despoluição do Rio Jundiaí foi um longo processo que começou em 1984. “No começo dos anos 1980, o Rio Jundiaí era mais poluído que o Rio Tietê, nessa época, um jornalista da cidade [Jayme Martins] desafiou os candidatos a prefeito a incluir a limpeza do rio na sua plataforma de campanha”, afirmou.
O desafio acabou provocando a criação do Comitê de Estudos e Recuperação do Rio Jundiaí (CERJU), em 1983. A entidade trabalhou em várias frentes para a recuperação do rio
“O CERJU arrecadava dinheiro das entidades e decidia conjuntamente aplicar dinheiro em canalizações e em tratamento. Esse comitê foi muito importante, foi o trabalho conjunto de muitas pessoas por muitos anos. O comitê já acabou, mas o trabalho de limpeza continua e é um trabalho para sempre”, disse Carra.
O diretor da Companhia de Saneamento de Jundiaí explica que o trabalho de despoluição depende das características locais dos municípios. “O básico é canalizar o esgoto das cidades até a estação de tratamento e fazer um tratamento do esgoto, você pode fazer estações maiores ou menores, existe uma variedade econômica do tratamento, conforme a característica do esgoto. O importante é fazer um estudo e ver qual se adequa mais a sua situação local, não existe uma solução para todos e também tem uma questão estrutural”.
Em Jundiaí, segundo ele, foi encontrada uma solução mista com apoio do Departamento de Água e Esgoto SA (DAE), uma empresa municipal, que faz o fornecimento de água tratada e coleta o esgoto em conjunto com a CSJ, a concessionária responsável pelo tratamento do esgoto gerado pela cidade, incluindo indústrias e comércio. Atualmente, a cidade tem três Estações de Tratamento de Esgoto, nos bairros Jardim Novo Horizonte, São José e Fernandes.
“Essa empresa construiu a Estação de Tratamento de Esgoto de Jundiaí (ETEJ) que, por muito tempo, foi a maior no interior de São Paulo. Essa estação vem operando desde 1998 e, em cinco anos, já tivemos uma surpresa bem interessante que foi a volta do peixe jundiá ao rio, uma espécie de bagre”.
Com 123 quilômetros de extensão, sendo 28 km dentro da cidade, o Rio Jundiaí tem seu nome originado do tupi e vem da palavra “jundiá”, que significa “bagre” e “y” significa “rio”. A bacia tem uma área de 1114 km². O Jundiaí nasce em Mairiporã, passa por Atibaia, Campo Limpo, Várzea Paulista, Jundiaí, Itupeva, Indaiatuba e Salto, desaguando no Rio Tietê.
O exemplo fez outras cidades que compõem a bacia também tratarem seus esgotos. “Em 2013, Várzea Paulista e Campo Limpo começaram a tratar. A cidade de Indaiatuba está terminando uma expansão da sua ETE e tudo isso culminou que, em 2017, o Rio Jundiaí foi promovido oficialmente para a classe 3, uma coisa muita boa que já permite captar água potável para abastecimento urbano”, comemorou Carra.
Segundo o diretor da CSJ, o trabalho não para. “O rio já tem vários peixes, ainda não é um rio para nadar, mas é um rio que dá para se orgulhar, é um trabalho que não para, ainda tem tratamento para fazer”, analisou.
ETE também gera compostagem
Além de devolver água tratada ao curso do rio, a ETEJ também transforma o lodo de esgoto gerado em material rico em matéria orgânica e nutrientes e por isso apresenta grande potencial de utilização na agricultura, como fertilizante orgânico.
“O resíduo do tratamento do esgoto é transformado em fertilizante, isso é uma iniciativa bem interessante e sustentável, veja que só de resíduos nós retiramos cerca de 5 mil toneladas por mês. Como temos uma colaboração com as indústrias e acompanhamos de perto para certificar que não tenham metais e componentes tóxicos, nós conseguirmos transformar esse resíduo todo em fertilizante de uso seguro na agricultura, isso acaba fechando ciclo de reciclagem”, explicou Carra.
Agencia Brasil

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Despoluição de rios é desafio para cidades paulistas BLOG DO CARLOS DEHON Rating: 5 segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

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