Em ruínas, a barragem de maior risco em Minas Gerais


Mina não emprega ninguém nem produz um real em royalties para o município

31/01/2019, QUINTA-FEIRA
RIO ACIMA (MG) - A menos de dez minutos do centro da pequena Rio Acima, cidade de 10 mil habitantes na Grande Belo Horizonte, a barragem Mina Engenho foi dominada pelo mato e está abandonada. Inativa há sete anos, a mina de ouro - que pertencia à Mundo Mineração, do grupo australiano Mundo Minerals, hoje em estado falimentar - não emprega ninguém nem produz um real em royalties para o município. Deixou para trás, porém, uma herança perigosa: as barragens de maior risco de Minas Gerais, segundo avaliação da Agência Nacional de Mineração (ANM), órgão regulador do setor.
Conforme o relatório mais recente da ANM, de janeiro, a barragem Mina Engenho foi a única do Estado a ser considerada de “alto risco” de vazamento. Para se ter ideia, as barragens da mineradora Vale em Brumadinho - na unidade onde houve o rompimento - eram consideradas de baixo risco. Outras foram classificadas de “risco médio” - uma delas está em Itabirito, perto de Rio Acima.
O Estado ouviu moradores de Rio Acima que relatam abandono total e que as duas barragens da mina de ouro - uma com a superfície sedimentada e outra cheia de água - não recebem manutenção desde que as atividades foram encerradas, de um dia para outro, no fim de 2011. A interrupção foi tão abrupta que fábrica, caminhões e carros usados no transporte de funcionários foram deixados para trás. A maioria dos trabalhadores não recebeu seus direitos, diz o Sindicato dos Trabalhadores de Extração de Ouro de Nova Lima e região.
Muito do que ficou para trás foi depredado ou furtado. Caminhonetes acabaram “depenadas” - pneus, motores e peças foram carregados e os vidros, quebrados. A estrutura de escritórios e refeitório está destruída - a privada do banheiro só não foi levada porque a louça quebrou no momento da retirada. Até hoje, “visitantes” da área abandonada aproveitam para achar canos, pedaços de ferro e mais itens que possam ser usados em construções.
O material depositado nas barragens é altamente tóxico - placas alertam para risco de contaminação, mas ninguém controla o fluxo de pessoas. Tampouco há cerca ou portão. Fontes do setor de mineração dizem que o potencial de contaminação da exploração do ouro é superior ao do trabalho com minério de ferro - sedimentos acumulados nas montanhas de Rio Acima teriam arsênico e mercúrio, entre outros metais.
Perigo
Além de Rio Acima, a Mina Engenho também tem o potencial de afetar um município bem maior, de quase 90 mil habitantes: Nova Lima. A prefeitura da cidade diz já ter acionado o Ministério Público para cobrar providências sobre a área. A administração ressalva, porém, que a obrigação da fiscalização é de órgãos estaduais e federais. Outro ponto que preocupa moradores é que, diferentemente da Vale, a Mundo Mineração não tem dinheiro para pagar eventuais indenizações.
Presidente do sindicato do setor de exploração de ouro em Nova Lima, Marcelino Antônio Edwirges diz que houve tentativa de buscar o ressarcimento dos funcionários. Mas ao pedir o arresto de máquinas e equipamentos, descobriram que a maioria deles era alugada. “Só conseguimos captar recursos para pagar dois trabalhadores.”
A Mundo Mineração atuava em atividade de risco. A empresa australiana comprou uma mina cujo potencial primário de exploração já havia sido exaurido por outra empresa. Segundo Edwirges, a empresa comprou a área por preço baixo, em busca de ouro na “sucata”, pelo reprocessamento dos sedimentos acumulados nas barragens. É uma aposta difícil, já que o potencial de mineração é de, no máximo, 10% do total original.
MSN

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