Os deputados estaduais no Ceará receberão quase R$ 35 mil por mês a partir de fevereiro do próximo ano, concretizando em dois anos R$ 5 mil de aumento em seus contracheques. Mas como sempre, quem não pode reajustar seu próprio salário e recebe menos de 75% da remuneração de um deputado federal ficou assim todo escandalizado, achando isso um abuso, uma farra.
Será que não percebem a importância do Legislativo para a democracia? Não pensam nos sacrifícios feitos por essas criaturas? Que importa se recebem auxílio combustível, plano de saúde para a família, verba de gabinete e outros benefícios um tanto caros, diante de suas exaustivas e produtivíssimas rotinas de trabalho?
Só pode ser ingratidão. Basta pensar com calma. Quem mais nomearia ruas e escolas? Hein? Quem aprovaria, em tempo recorde, leis enviadas pelo Executivo, dispensando debates cansativos? Diga aí. Quem distribuiria medalhas e comendas em homenagens a amigos, financiadores, correligionários e parentes, sem os quais o Ceará seria apenas um estado nordestino pobre?
Além do mais, é tudo muito coerente. Parlamentares de base religiosa podem lembrar o ensinamento divino: “Dai a César o que é de César.” Os conservadores sabem que se trata de meritocracia, e os progressistas, que é um combate à pobreza, ainda que seja contra uma eventual pobreza pessoal.
Vale ressaltar que, por lei, deputados estaduais podem sim ganhar até 75% do salário de um deputado federal. Não é obrigatório, mas sempre preferem que seja assim. Vereadores, por sua vez, fixam seus reajustes com base nos salários de deputados estaduais. Tá certo. Assim, todos ficam felizes e dispostos a trabalhar mais pelo Brasil. Queriam o quê? Que reajustassem os seus próprios salários com base nos percentuais do salário-mínimo? Era só o que faltava. Ou não é?
▪️ Wanderley Filho é colunista de política da Jangadeiro BandNews FM 101.7.
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