A recente declaração do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), com novas insinuações sobre a origem do coronavírus, desagradou governadores do país, que planejam se reunir com o embaixador chinês para tratar da chegada de insumos e de vacinas.
Em discurso nesta quarta-feira (5), o presidente disse que estamos diante de “um vírus novo” e que “ninguém sabe se nasceu em laboratório ou nasceu por algum ser humano ingerir um animal inadequado”.
Sem citar diretamente a China, ele afirmou: “Os militares sabem o que é guerra química, bacteriológica e radiológica. Será que estamos enfrentando uma nova guerra? Qual país que mais cresceu seu PIB? Não vou dizer para vocês.”
Wellington Dias (PT), presidente do Fórum Nacional de Governadores e governador do Piauí, disse que a manifestação do presidente causa “curto-circuito” nas relações entre China e Brasil. Dias promete fazer um apelo as lideranças chinesas a fim de evitar atrasos nas entregas de insumos para vacinas.
O governador também busca de diálogo com o país asiático para tentar antecipar para este semestre 30 milhões de doses da coronavac – o lote ainda está sendo negociado pelo instituto Butantan. A expectativa inicial é de que seja enviado ao país após setembro. Vários estados já disseram ter interesse em comprar a remessa, caso o Ministério da Saúde desista.
“Os estados brasileiros querem seguir utilizando a vacina Coronavac. Estamos pedindo agenda [com a China] para tratar de dois temas: cronograma de entrega e antecipação de 30 milhões de doses previstas para setembro”, disse.
Eduardo Leite (PSDB), governador do Rio Grande do Sul, também disse estar preocupado com o impacto que a declaração de Bolsonaro terá nas próximas entregas de vacinas.
“Extremamente preocupante. Tem um ditado que diz: 'muito ajuda quem não atrapalha'. Definitivamente não serve ao Presidente, que faz uma declaração lançando suspeitas e ataques sem provas sobre parceiro econômico importante e estratégico para a própria superação da pandemia.”, concluiu.
O governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), afirma que os governadores pedirão agenda com a embaixada chinesa para tratar do tema. Segundo ele, a declaração do presidente "não ajuda". Barbalho afirma, porém, que os reflexos da fala de Bolsonaro, "só saberemos com o tempo.".
Mais cedo, o governador de São Paulo, João Doria, e o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, já haviam repudiado o comportamento de Bolsonaro.
“Inacreditável que diante de uma circunstância em que precisamos salvar vidas, proteger vidas, e termos mais vacinas, tenhamos alguém criticando a China, grande fornecedor de insumos para a vacina. Isso já criou profundo mal estar na chancelaria e diplomacia chinesa.”, afirmou Doria.
À reportagem da CNN, o diretor do Instituto Butantan admitiu que há risco de “não ter mais vacinas” após o dia 14 deste mês, quando está prevista a última liberação de doses ao governo federal. Ele afirmou ter enviado mensagem a um conselheiro do embaixador da China no Brasil demonstrando “preocupação” com as declarações recentes do governo Bolsonaro.
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