Os gastos municipais em festas, ao destinarem cachês exorbitantes a artistas de fora, sustentam um círculo limitado de empresários, sufocando a cultura local em prol do lucro fácil. A disparidade é gritante: vultosos recursos financiam artistas externos – frequentemente repetidos e com estilos desalinhados da identidade das celebrações, como sertanejo, sofrência e axé em festas juninas –, enquanto artistas municipais e regionais recebem apoio irrisório ou são relegados à invisibilidade. Esse cenário torna-se ainda mais revoltante ao contrastar com a realidade dos municípios, onde faltam medicamentos em postos de saúde, filas de cirurgias se alongam, escolas operam com infraestrutura precária e projetos culturais e esportivos locais definham por falta de investimento. Recursos públicos, que deveriam ser sagrados para necessidades básicas e desenvolvimento endógeno, são desviados para espetáculos fugazes, beneficiando essencialmente intermediários, produtoras aliadas do poder e os gestores que promovem tais eventos.
Essa estratégia configura um moderno “pão e circo”, estrategicamente eficaz. As prefeituras justificam os gastos excessivos com a promessa de retorno econômico, usando até mesmo os humildes ambulantes – que auferem renda mínima com bebidas – como argumento frágil. Ao investir pesado em eventos midiáticos de impacto efêmero, os gestores erguem uma cortina de fumaça: o prefeito desvia o foco de sua incompetência administrativa, disfarça campanhas eleitorais antecipadas e oculta a corrupção estrutural e o abandono de políticas sociais essenciais. Oferecem horas de diversão a um público restrito (muitas vezes excluindo idosos, doentes, grupos com restrições religiosas…) em troca da resignação diante da carência em saúde, educação e oportunidades. Romper esse ciclo vicioso exige cobrança incansável por transparência por parte de vereadores e imprensa, priorização orçamentária genuína para áreas sociais e o fortalecimento da cultura local como alicerce de um desenvolvimento verdadeiramente inclusivo.
“Enquanto houver a política do pão e circo, o povo continuará escravo e tratado como bobo.”
(*) Repórter Ceará
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