A insustentável tese de tudo sob controle



Da Coluna Política, de Érico Firmo, no O POVO desta quinta-feira:
Ao dizer que os chefes de facções são conhecidos e monitorados pela Polícia, o secretário André Costa responsabiliza a legislação e o Judiciário pelo fato de eles estarem em liberdade e agindo livremente.
“Nós já sabemos quem são os chefes do tráfico, os chefes das facções que estão no Estado. Nós já sabemos onde estão localizadas, situadas cada uma das células. Os locais de conflito, quem são as facções que estão em conflito, quem são as pessoas envolvidas”, disse o titular da Segurança Pública cearense.
E acrescentou: “Há uma série de proteções que a própria legislação traz, que são para o cidadão, mas que dificultam, por outro lado, um trabalho mais intensificado da Polícia”, disse, conforme mostrou no O POVO de ontem a jornalista Sara Oliveira.
A coluna de ontem apontou alguns problemas da tese do secretário:
1) Como é possível que, levando a vida luxuosa da qual desfrutavam, a Polícia não tenha sido capaz de responsabilizar os criminosos ao menos por lavagem de dinheiro? Eles conseguiam justificar aquele patrimônio como adquirido por meios legais?
2) Vá lá que não houvesse elementos para prendê-los. Não seria o caso de pelo menos se evitar que eles livremente comandassem as organizações? Impedir que as ordens se concretizassem? As comunicações não estão rastreadas, de forma a fornecer provas? Não é possível sequer impedir as ações criminosas de se efetivarem?
Mas, há problemas adicionais na tese do secretário:
3) Rogério Jeremias de Simone, o “Gegê do Mangue”, considerado principal chefe do Primeiro Comando da Capital (PCC) em liberdade, estava condenado pela Justiça a 47 anos de prisão desde março de 2017. Havia mandado em aberto contra ele. Se a Polícia tem tudo rastreadinho, se sabe quem são as personagens e o que fazem, por que cargas d’água não foram lá e prenderam o cara mais importante do PCC no Brasil que estava em liberdade? Por que não cumpriram o mandado judicial?
4) Claudiney Rodrigues de Souza, conhecido como “Claudio Boy”, estava em Fortaleza e foi preso na segunda-feira, quando o avião que o levou da capital cearense aterrissou em São Paulo. Era outro dos figurões do PCC. Alguém quer me dizer que a presença dele no Ceará era conhecida e monitorada desde antes? Por que não o prenderam aqui, então? Quando ele chega a São Paulo, a Justiça não é mais empecilho e a lei não atrapalha mais?
Não espero que as autoridades da segurança pública cheguem para os jornais e digam: “Não tínhamos ideia de que sujeitos dessa relevância nas organizações criminosas estavam aqui” ou “não sabemos quem são os chefes”, “não temos ideia do que eles fazem”. Não iria pegar bem e desmoralizaria mais quem já está em baixa.
Mas, também não precisa exagerar ao dizer que controla toda a situação e são não resolve tudo porque o Judiciário e a legislação não colaboram.
Eliomar de Lima

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