Uma pesquisa desenvolvida pelo Comitê de Prevenção e Combate à Violência, da Assembleia Legislativa do Ceará (Alece), e divulgada na tarde desta quinta-feira (14), no evento "Semana Cada Vida Importa", aponta que 502 jovens que passaram por medidas socioeducativas de privação de liberdade - em decorrência de atos infracionais - no Estado, morreram entre os anos de 2016 e 2021. Esse número representa 5,2% do total de pessoas que cumpriu medidas de privação de liberdade, no Sistema Socioeducativo cearense, nesses seis anos, que é de 9.742 jovens.
A pesquisa "Vidas por um Fio - Trajetórias de adolescentes após o cumprimento de medidas socioeducativas no Ceará" detalha que o ano em que aconteceu o maior número de mortes de jovens que cumpriram medidas socioeducativas de privação de liberdade foi 2020, com 136 casos (dos quais 112 foram homicídios). Já o ano que teve menos mortes foi 2016, com 17 casos (sendo 15 homicídios).
Segundo a pesquisa, o tempo de vida desses jovens mortos, ao terminarem a medida socioeducativa, foi, em média, de 457 dias (ou seja, aproximadamente 1 ano, 3 meses e 7 dias). Alguns jovens morreram durante o cumprimento da medida.
A maioria dos jovens que saíram das medidas socioeducativas e morreram no Ceará, nos 6 anos pesquisados, era do sexo masculino (481 jovens, ou 95,8% do total), enquanto apenas 21 (4,1%) eram do sexo feminino. E a idade média desses jovens mortos era de 17 anos.
O coordenador técnico do Comitê de Prevenção e Combate à Violência, o sociólogo Thiago de Holanda, analisa que os jovens que passam pelo Sistema Socioeducativo "são mais suscetíveis à violência, à violência letal, a serem vítimas de homicídio".
QUEM SÃO OS EGRESSOS DO SISTEMA SOCIOEDUCATIVO?
Uma equipe formada por 23 pessoas (três coordenadores da pesquisa, dez recenseadores comunitários e sete motoristas da Alece) levantou e visitou o endereço de 1.013 egressos do sistema socioeducativo, no Ceará. Entretanto, apenas 171 jovens (em 14% dos endereços visitados) foram localizados e aceitaram participar de uma pesquisa que traçou o perfil desse público.
"O perfil dessa vítima já é um perfil conhecido, a maioria é de meninos negros (pretos e pardos), que se dizem heterossexuais, que tem uma renda baixa e uma baixa escolaridade. É o perfil também das vítimas de homicídio: o jovem negro morador da periferia", resume o sociólogo Thiago de Holanda.
Confira o perfil maioritário do egresso:
A pesquisa revela ainda que 46,2% dos entrevistados trabalhavam antes da medida socioeducativa (sendo 19,4% como entregador e outros 19,4%, como servente de pedreiro); enquanto 60% trabalharam após a medida (sendo 14,6% como servente de pedreiro e 10,3%, como vendedor). Os jovens ouvidos começaram a ter uma atividade remunerada, em média, com 14 anos. E apenas 17,6% tiveram a carteira assinada.
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