ENTENDA
Um estudo da University of Exeter, no Reino Unido, apontou um aumento de 787% nos diagnósticos de autismo, principalmente entre adultos, no período entre entre 1998 e 2018. No Brasil, cerca de 2 milhões de pessoas declaram estar no espectro autista. Além disso, o Censo Escolar do MEC aponta alta de 44,4% nos registros.
Para a psiquiatra Juliana Belo Diniz, especialista em pesquisa clínica pela Universidade de Harvard, esse aumento não significa necessariamente mais casos.
“O que está acontecendo não é um crescimento real nessa proporção, mas sim uma mudança na concepção do autismo e na atenção ao diagnóstico. Classificamos mais pessoas como autistas do que antes”, explicou em entrevista à rádio Jangadeiro BandNews 101.7.
A especialista destacou que, embora possa haver algum aumento real, ele é “certamente muito menor do que os 700% indicam”. Juliana também aponta a influência de movimentos da sociedade civil, que ampliaram a noção de espectro autista, em paralelo ao olhar da psiquiatria e neurologia.
“Essa popularização do conceito expandido faz com que muitas pessoas se identifiquem com o diagnóstico, mas não seriam classificadas clinicamente como autistas. Isso pode levar à banalização do diagnóstico e prejudicar reivindicações de quem tem quadros graves”, afirmou.
Juliana alertou ainda que sintomas leves, como ansiedade social ou dificuldades de atenção decorrentes da rotina exaustiva, vêm sendo enquadrados como autismo ou TDAH, quando poderiam estar ligados a outras condições. “É preciso cuidado para não colocar no mesmo grupo pessoas com quadros graves e leves, pois isso prejudica a luta por direitos das famílias mais afetadas”.
A especialista reforçou que apenas psiquiatras e neurologistas têm prerrogativa para diagnosticar autismo. Psicólogos podem contribuir no acompanhamento, mas não têm autorização legal para fechar o diagnóstico.
Ela também criticou diagnósticos feitos na internet. “Um diagnóstico sério exige entrevista longa, revisão de histórico acadêmico, conversas com familiares e avaliação ampla. Se for dado em dez minutos, dificilmente é confiável”, concluiu.
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