Ceará é 4º do Brasil com mais suspeitas de reações adversas a cloroquina e hidroxicloroquina

O Ceará registrou, entre março de 2020 e o último dia 4, 16 suspeitas de reações adversas após uso de cloroquina e hidroxicloroquina. É o quarto maior número do Brasil, segundo o Painel de Notificações de Farmacovigilância da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Em quantidade de registros, o Estado fica atrás apenas de Amazonas (636), São Paulo (73) e Rio de Janeiro (18). Das 16 notificações cearenses, 13 constam no painel como “recuperadas/resolvidas”. O desfecho das três restantes não é informado.

Os casos são enviados à agência por farmacêuticos ou outros profissionais de saúde, e correspondem a “suspeitas de eventos adversos”, já que, como a Anvisa destaca, “não estão disponíveis os resultados das análises para atribuir ou não a causalidade aos medicamentos”.

Incluindo no levantamento outros dois medicamentos do “Kit Covid”, a azitromicina e a ivermectina, o número de reações adversas suspeitas no Ceará sobe para 25, entre março passado e este mês – oito delas após uso do antibiótico, e uma após o antiparasitário.

Entre 2018, primeiro ano disponível no painel, e fevereiro de 2020, último mês antes da pandemia no Ceará, não houve registro de reação adversa à cloroquina e à hidroxicloroquina no Estado. No mesmo período, dois casos de eventos ligados à azitromicina foram contabilizados, ambos em 2019.

Efeitos do uso

Entre os eventos adversos supostamente ligados ao uso da cloroquina e da hidroxicloroquina e notificados no Painel da Anvisa estão distúrbios gastrointestinais, cutâneos, oculares, respiratórios, musculares e no sistema nervoso.

Os pacientes que mais apresentaram manifestações foram os da faixa etária entre 18 e 44 anos, com sete casos; seguidos pelos de 45 a 74 anos, com cinco registros; e maiores de 75 anos, com quatro notificações. Mulheres predominam, com dez casos, contra seis em homens.

Os meses em que o Ceará anotou suspeitas de eventos adversos pelos dois fármacos mais simbólicos do “kit Covid” foram abril (2), maio (4), junho (7), agosto, novembro e dezembro (um caso cada mês). Em 2021, ainda não houve registro.

Internado com Covid em maio de 2020, no Hospital São José (HSJ), o vendedor Francisco da Silva, 40, foi um dos pacientes que chegaram a receber como tratamento a associação entre cloroquina e azitromicina.

“Passei alguns dias tomando e parecia que tava fazendo efeito. Mas ninguém sabe, né? E depois senti uma taquicardia, um formigamento nos pés, acho que pode ter sido efeito da cloroquina, o médico disse que era possível”, disse Francisco da Silva sobre uso de medicamentos do Kit Covid.

A médica Lígia Kerr, pesquisadora da Universidade Federal do Ceará (UFC) e integrante da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) explica que os efeitos podem variar de acordo com cada organismo. Os principais são taquicardia, náuseas, vômito e tontura.

A especialista alerta que estudos científicos comprovam que o uso da cloroquina e hidroxicloroquina - que compõem o chamado ‘Kit Covid’ - só deve ser feito em “casos muito especiais” o que não inclui a Covid-19. “É contraindicado”, pontua a média. Ela detalha que o uso desses medicamentos podem causar importantes efeitos colaterais, levando inclusive o paciente a óbito.

“Um desses efeitos é a arritmia cardíaca. Pacientes com quadra grave da Covid podem morrer”, descreve a gravidade do uso indevido. Lígia avalia ainda que o atual número de 16 pessoas com suspeitas de reações adversas tende a crescer nas próximas semanas caso a “onda de falsas informações continue”.

“É preocupante. Há uma corrente que defende e apoia o uso do ‘kit covid’ e isso pode trazer consequências graves. A ciência tem que prevalecer. Mas, caso as pessoas continuem tomando esses medicamentos, a tendência é de surgir mais casos com reações”, disse a infectologista Ligia Kerr.

Com a crescente vertiginosa da pandemia e a baixa oferta de vacinação, acrescenta Lígia, pode se desencadear uma corrida por medicamento sem comprovação científica e danosos à saúde quando mal ministrados.

“A pandemia segue crescendo. As pessoas estão desesperadas vendo o vírus bater à sua porta e, com a falta de informação, ou incentivo equivocado, podem recorrer a esse kit. É um cenário perigoso. É bom lembrar que essa cepa atual tem carga viral dez vezes maior que a primeira”.

Falsa sensação de segurança

Além de não ser efetivo para o tratamento da Covid-19, os medicamentos podem causar uma falsa sensação de segurança, adverte a pesquisadora da UFC.

“As pessoas acham que estão seguras e tendem a relaxar nos cuidados. Já presenciei pessoas que deixaram de usar máscara sob o pretexto de estarem fazendo uso do ‘kit covid’. É uma ameaça a ela própria e às pessoas do seu convívio, pois ficam sujeitas a serem infectadas”, conclui Lígia Kerr.

Em abril de 2020, a Secretaria Estadual da Saúde (Sesa) chegou a incluir o uso de cloroquina e hidroxicloroquina, associadas à azitromicina, como protocolo de tratamento de pacientes graves com Covid-19. Em maio, a pasta editou uma nova nota técnica, retirando recomendação de uso de medicamentos antimaláricos, como a Cloroquina e a Hidroxicloroquina no tratamento rotineiro de pacientes com suspeita ou confirmação da Covid hospitalizados no âmbito do Estado.
Fonte: Diário do Nordeste

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