13/04/2021 > TERÇA-FEIRA
No dia em que Fortaleza completa 295 anos de emancipação, O Otimista traz a palavra do prefeito da Cidade, médico José Sarto Nogueira, para além dos vários desafios no enfrentamento à pandemia de covid-19. Ele também fala de esperança, empatia, solidariedade e o desejo de superação.
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| José Sarto Prefeito de Fortaleza |
Aposentado das maternidades e centros cirúrgicos, o médico José Sarto Nogueira, 62, segue trabalhando pela vida. Agora, à frente da Prefeitura de Fortaleza, num dos mais dramáticos capítulos da história do Município, que hoje completa 295 anos.
Aniversário diferente de todos os outros, a comemoração dá lugar ao esforço que vem sendo feito para salvar vidas, socorrer infectados e ajudar os mais atingidos. Mas também há espaço para reflexões sobre superação, solidariedade e empatia.
Os 100 primeiros dias de gestão, a retomada de atividades econômicas e a força inerente à Cidade – atualmente o maior PIB entre capitais do Nordeste -, foram pontos da conversa, exclusiva, de Sarto com O Otimista, na sede da Prefeitura. A seguir, os melhores trechos:
O Otimista – Como o Município de Fortaleza chega aos 295 anos?
José Sarto Nogueira – Fortaleza chega aos 295 anos sendo a 5ª capital, em população, do País, e o 1º PIB do Nordeste. E trazendo consigo, também, muitos desafios. É uma cidade extremamente adensada. Se observamos ao longo das últimas duas décadas e meia, o crescimento demográfico se deu de forma muito exponencial, e traz enormes desafios: habitação, saúde, educação de qualidade e algumas contradições, como a desigualdade econômica e social que existem em metrópoles como Fortaleza.
O Otimista – Do ponto de vista social, como a gestão do senhor está manejando os impactos da pandemia de covid-19?
Sarto – Nós fizemos dois grandes pacotes para tentar minimizar os efeitos que a pandemia traz na área econômica. O primeiro deles é o socorro emergencial, através de cestas básicas de alimentação. Estão sendo distribuídas, pela Prefeitura, quase 400 mil cestas básicas, mensalmente. Para a rede escolar municipal e para pessoas que têm renda zero e que não estão com filhos inscritos na rede escolar.
O Otimista – E fora do ambiente escolar e de renda zero?
Sarto – Temos proporcionado o auxílio financeiro, para populações afetadas como artistas, pessoas que já estavam nos programas de renda mínima da Prefeitura, com investimento de R$ 31 milhões, que beneficiam diretamente 392 mil pessoas. Para os empresários e pequenos empresários, fizemos um programa de recuperação econômica, tanto alargando mais o prazo para o pagamento do IPTU, como dando desconto para quem tem dívida com o ISS, e dispensando 100% de juros e multa de mora para quem aderir no primeiro mês, 90% para quem aderir no segundo e 80% no terceiro. Também isentamos os permissionários de pagar a contribuição anual, que são cerca de 5 mil pessoas.
O Otimista – O socorro é importante, mas o fundamental é a imunização. Como está o cronograma de vacinação?
Sarto – Fortaleza tem sido recordista em vacinação, tanto que já temos um estoque pequeno de doses emdecorrência do que recebemos, recentemente. Na Semana Santa, em três dias de vacinação, conseguimos imunizar quase 90 mil fortalezenses. A capital cearense tem se destacado no ranking nacional pela celeridade deste processo. Quero aproveitar para parabenizar as equipes da nossa Secretaria Municipal de Saúde. Aqui, estamos vacinando em 58 postos, em 4 drive thru e também nos nossos Cucas. Todos estes pontos já aplicaram mais de 440 mil doses. É só chegarem as vacinas que destinamos celeremente à imunização.
O Otimista – O recebimento dos lotes de vacina do Ministério da Saúde está dentro do esperado?
Sarto – Não. Nós estamos abaixo da expectativa. Poderíamos estar muito mais à frente do que, de fato, estamos. Eu celebro que o Governo Federal esteja vacinando e indo buscar imunizantes, já que antes negava a ciência e debochava da vacina. É um passo à frente. Mas este governo retardou, no mercado internacional, a sua entrada para a compra da vacina, de quem quer que fosse. Outros países fizeram diferente. A vacina Sputinik V, por exemplo, é aplicada em 58 países e tem cerca de dez agências reguladoras que atestam sua eficácia e nós estamos ainda tentando comprar. A Anvisa ainda quer uma última etapa para liberar a aquisição direta por prefeituras e governos estaduais. Então, está aquém do que precisamos e imaginamos.
O Otimista – A CPI da Covid, em vias de ser instalada no Senado, ajuda ou atrapalha?
Sarto – Francamente, não estou convencido de que ajuda, neste momento. O próprio Governo Federal deveria refletir e acelerar o processo de aquisição de vacinas. Depois, dedicaria esforços para prestar esclarecimentos. O cenário já está tão politizado, que não estou convencido desta CPI ser o melhor instrumento, atualmente.
O Otimista – Nesta segunda-feira (12) começou a retomada gradual de algumas atividades econômicas não essenciais. Qual a expectativa sobre um novo lockdown?
Sarto – A expectativa é de que a população compreenda que nós estamos passando por um momento muito singular da saúde pública e da economia. É importante que a gente compreenda que nosso comportamento vai impactar diretamente no resultado da transmissão do vírus. É preciso respeitar as regras por uma razão muito simples: se nós desrespeitarmos, vamos facilitar que esse vírus circule e adoeça mais pessoas. Pedimos que obedeçam aos percentuais liberados, evitem aglomerações, continuem usando máscara e higienizando as mãos.
O Otimista – Como o senhor avalia cobranças e protestos de representantes de segmentos econômicos que ficaram de fora da flexibilização?
Sarto – Compreendemos que são legítimas as manifestações e que cada um tem um ponto de vista. Agora, o comitê é composto por pessoas e instituições que são plurais. Temos o Poder Judiciário, o Ministério Público Federal e Estadual, o comitê técnico, secretarias estaduais e municipais de saúde, epidemiologistas, infectologistas. Ou seja, são decisões precisas, baseadas em estudos.
O Otimista – Neste último fim de semana o senhor completou 100 dias à frente da gestão municipal. Qual o balanço que o senhor faz, para além do enfrentamento à pandemia?
Sarto – Fortaleza tem um povo guerreiro, acolhedor, resiliente. Fortaleza, no nome, traz consigo uma capacidade de luta incrível. Nós estamos preparando a Cidade, para entregá- -la quando sairmos da pandemia e retomarmos o crescimento. Estamos obedecendo a um cronograma de obras, evidentemente no ritmo possível diante das atividades de combate à covid-19, como expansão de leitos, convocação de novas equipes, aquisição de insumos, vacinação, fiscalização… Tudo isso requer nossos esforços, durmo e acordo pensando em como fazer para salvar mais vidas.
O Otimista – Estamos no segundo aniversário da Cidade enfrentando a pandemia. O senhor acredita que no próximo já estaremos fora desta situação?
Sarto – Eu quero acreditar que vamos virar essa página, vencer esta guerra. Todo dia pedimos a ajuda da população para conseguir e eu tenho certeza de que todos vamos tirar umalição sobre solidariedade, sobre os verdadeiros valores do ser humano. O que importa é a vida, é poder se colocar no lugar do outro e são estes os ensinamentos que toda a situação tem trazido. Tenho a maior convicção de que vamos sair dessa e, no ano que vem, se Deus quiser, estaremos fora dessa pandemia, dentro do novo normal, mas podendo desfrutar de uma convivência diferenciada.
O Otimista – Qual a mensagem do senhor neste aniversário de Fortaleza?
Sarto – Minha mensagem é de carinho e agradecimento, por Fortaleza ter essa robustez, que já no nome mostra a capacidade de ser forte, lutar e não desistir nunca. Tenho certeza de que a Cidade, nos seus 295 anos, vai continuar assim. Parabéns, Fortaleza! Esta é nossa cidade querida e amada, que nos acolhe sempre e de onde tiramos o sustento das nossas famílias. Que as virtudes sejam preservadas, dando oportunidade a todos e que nós possamos vislumbrar um futuro próximo bem melhor do que vivemos hoje.
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