Saiba como policiais civis extorquiam traficantes e tinham vantagem financeira, segundo denúncia do MPCE

De acordo com a descrição dos fatos feita pelo Ministério Público Estadual em denúncia, inspetores e delegados criavam situações para simular apreensões de drogas, extorquir e torturar traficantes e ter vantagem financeira.


Pelo menos três delegados e 13 inspetores da Polícia Civil do Ceará são acusados de promover, constituir, financiar ou integrar organização criminosa, conforme denúncia criminal do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco) do Ministério Público do Ceará (MPCE). Em 2018, operação da Polícia Federal já atuava com o objetivo de desfazer organização criminosa composta por policiais.
Conforme denúncia do documento, o esquema criminoso funciona com o recrutamento de criminosos envolvidos com o tráfico de drogas para exercerem papel de "informantes". Esses criminosos, então, ganham confiança de outros traficantes e organizam uma compra de drogas. A partir disso, os criminosos vão até o local junto aos policiais civis que lideram o esquema portando notas falsas. A descrição dos fatos consta na denúncia do Ministério Público.
"No local, os policiais e os ‘informantes’ abordam o traficante, subtraindo a droga e os valores eventualmente encontrados; na sequência, através de ameaças e torturas constrangem o traficante a entregar mais droga e mais valores”, narra o documento.

De acordo com a descrição feita pelo MPCE, os agentes, após a ação, formalizam uma apreensão de drogas em quantidade inferior ao que foi coletado, ou até mesmo de outras substâncias. O excedente — que em alguns casos é toda a droga coletada, sem nenhuma formalização de apreensão — é desviado para revenda, apurando dinheiro para pagar os “informantes” e continuar com o esquema criminoso.

Por meio das investigações e do trabalho de análise dos dados de telefones de inspetores e delegados lotados na Divisão de Combate ao Tráfico de Drogas, o MPCE concluiu que a atuação de organizações criminosas no local era “muito mais ampla” do que se pensava inicialmente. "Parte dos policiais se aproveitava de informações privilegiadas para abordar vítimas específicas que pudessem ser "trabalhadas", tanto para o alcance de apreensão de grande quantidade de drogas quanto de dinheiro para os que integravam a linha de frente de abordagens, tudo com conivência e proteção dos delegados”, relata a denúncia.

"Frequentemente o abordado, que se encontrava sempre com algum objeto ilícito ou mandado judicial em aberto era extorquido (em várias ocasiões através da prática de torturas) e ameaçado se preso em flagrante para que entregasse alguma informação sobre traficantes maiores e mais quantidade de entorpecentes, além, é claro, de dinheiro, principal foco dos policiais. Algumas vezes, os próprios traficantes vítimas as extorsões e torturas ganhavam a confiança do grupo e se tornavam parceiros e informantes”, continua o documento.

Em nota, a Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD) informa que já entrou em contato com o MPCE, que se comprometeu em oficializar a este órgão a denúncia, devidamente acompanhada de toda documentação, para análise e adoção de medidas na esfera administrativa.

(Colaborou Angélica Feitosa)
(*) O Povo
www.carlosdehon.com

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