Casa Branca põe fim ao sigilo de 240 mil páginas de documentos relacionados à execução do líder ativista e pastor batista, em 1968. Fundador do Instituto Martin Luther King Jr. fala ao Correio e adverte sobre divulgação seletiva.
Em 20 de janeiro passado, feriado nos EUA pelo Dia de Martin Luther King (MLK), Donald Trump fez uma promessa, em seu discurso de posse: trabalhar pela unidade nacional. "Em honra de MLK, nós nos esforçaremos juntos para tornar seu sonho realidade. Nós faremos seu sonho se tornar realidade", declarou o republicano. Seis meses depois, o presidente à frente de um dos governos mais polêmicos das últimas décadas ignorou a vontade da família do pastor batista e líder ativista assassinado em 4 de abril de 1968 e liberou 240 mil páginas de documentos sobre o crime. No primeiro dia à frente da Casa Branca, Trump tinha assinado uma ordem executiva relacionada ao fim do sigilo sobre os documentos.
Fundador do Instituto Martin Luther King Jr., guardião dos documentos do líder ativista e professor da Universidade de Stanford, Clayborne Carson disse ao Correio não ter problemas com uma divulgação geral, e não seletiva, de dossiês relacionados a MLK. "O problema, geralmente, resulta da liberação seletiva dos documentos, que oferecem interpretações do FBI (polícia federal dos Estados Unidos), em vez de evidências reais. Por exemplo, o FBI e outras autoridades do governo federal estavam monitorando Martin Luther King, no início de abril de 1968, de um quartel de bombeiros próximo", afirmou.
Apesar de admitir não ter visto nenhuma evidência de que esses oficiais estivessem envolvidos no assassinato de MLK, Carson acredita que algumas dessas autoridades podem ter permitido que isso ocorresse por causa da conhecida oposição de J. Edgar Hoover (então diretor do FBI) a MLK e a outras lideranças negras, como Malcom X.
Filha de MLK, Bernice King alfinetou Trump nas redes sociais. Sobre a foto do pai, escreveu: "Agora, libere os arquivos de Epstein". Foi uma referência ao financista Jeffrey Epstein, acusado de tráfico sexual e pedofilia. "Como filhos do Dr. King e da Sra. Coretta Scott King, sua trágica morte foi uma dor intensamente pessoal — uma perda devastadora para sua esposa, filhos e a neta que ele nunca conheceu —, uma ausência que nossa família suportou por mais de 57 anos. Pedimos àqueles que se envolvem na divulgação desses arquivos que o façam com empatia, moderação e respeito pelo luto contínuo de nossa família", publicou. "Embora apoiemos a transparência e a responsabilização histórica, opomo-nos a quaisquer ataques ao legado do nosso pai ou a tentativas de usá-lo como arma para disseminar mentiras." MLK foi assassinado por James Earl Ray, com um tiro no rosto, enquanto estava hospedado em um motel de Memphis, no Tennessee.
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