Gasto do SUS com doenças do esgoto, no Ceará, financiaria 3 postos de saúde


Pressionar a descarga do banheiro é apenas o início de um longo processo de tratamento do esgoto que é invisível para grande parte da população cearense. Contudo, praticamente metade do Estado ainda convive com a falta de saneamento básico e está sujeita a doenças – muitas vezes graves – relacionadas aos efluentes não tratados.

Para Brenda Rozendo, cientista ambiental e assessora técnica do Instituto Terre des Hommes (TdH Brasil), a combinação de um organismo naturalmente sensível e a maior exposição física a locais com esgoto a céu aberto, lixo ou água poluída faz com que as crianças liderem esses índices.

“As crianças vão ter esse contato muito mais próximo porque não têm o mesmo cuidado que uma pessoa adulta em ambientes que estão sujos. Até essas crianças atingirem certa imunidade, elas vão ficar doentes”, entende.

O cenário não é incomum para Mário França, 23 anos, morador do Vicente Pinzón, em Fortaleza. O território é cortado pelo Riacho Maceió, um antigo recurso hídrico da capital que desemboca na Avenida Beira-Mar. Contudo, até chegar lá, atravessa um longo percurso recebendo lixo e água suja e contaminada.

“Ocorre muito: as crianças entram no esgoto, tomam banho, pegam peixe. Elas vêm no período da tarde, quando está menos quente”, confessa o articulador comunitário.

De fato, os jovens são os mais afetados pelas “doenças do esgoto” no Ceará: em 2024, houve 5.187 internações de pessoas de até 4 anos por essa causa, além de 1.825 de 5 a 9 anos e 1.049 de 10 a 19 anos. Ou seja, quase 70% das vítimas eram crianças ou adolescentes em idade escolar, segundo estudo técnico do Instituto Trata Brasil.

No ano inteiro, o Ceará registrou 12,2 mil internações por doenças relacionadas ao saneamento ambiental inadequado (DRSAI). Em apenas um ano, foram gastos R$5,14 milhões para tratar os pacientes afetados, o suficiente para construir três postos de saúde de perfil compacto.



A redução das internações por DRSAI aliviaria o sistema de saúde, permitindo que recursos fossem redirecionados para outras áreas. Além disso, melhorias no saneamento básico têm impactos positivos na educação, na produtividade e na qualidade de vida geral da população.Instituto Trata Brasil
Em estudo de 2025



A estimativa do Diário do Nordeste se baseia em custos de uma Unidade Básica de Saúde (UBS) Tipo I em contratos ou financiamentos do Ministério da Saúde (MS), que variam de R$ 1,3 milhão a R$ 2 milhões, dependendo de fatores locais como valor do terreno, equipamentos e obras complementares.

No caso do Ceará, o estudo revelou ainda que 84% das internações no Sistema Único de Saúde (SUS) são causadas por doenças de transmissão feco-oral, principalmente infecções intestinais. Ou seja, a maioria poderia ser evitada com medidas básicas de saneamento.

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