Os alunos não querem nada


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Atualizado, as 10:44 - 27/03/2017
Em artigo no O POVO deste domingo (26), o sociólogo e professor titular da Universidade Federal do Ceará (UFC), André Haguette, diz que estudantes das escolas municipais regulares não desejam aprender, o que não ocorre nas escolas profissionalizantes. Confira:
Quem frequenta escolas públicas estaduais e municipais ou convive com professores dessas instituições certamente ouviu dos professores, repetidas vezes, que os “alunos não querem nada”, o que explicaria que a média dos anos de estudos é menor no Brasil do que no Mercosul e entre os Brics. Resultados da Prova Brasil 2015 que acabam de ser publicados mostram que, no País, 50% dos estudantes das escolas públicas estaduais e municipais não possuem um aprendizado adequado em português e que 61% estão na mesma situação em matemática; no Ceará, as percentagens são, respectivamente, de 43 e 58. Devemos nos alegrar de estar acima da média brasileira ou nos entristecer de tão frágil e deprimente desempenho?
O sistema educacional brasileiro padece de uma fratura estrutural: uma grande fragmentação. A fratura é a decisiva separação entre a escola particular e a escola pública, que, é sempre bom lembrar, somente foi democratizada (aberta às classes carentes) nos anos 1960 e universalizada, nos anos 1990 do século passado. Talvez essa falha não fosse tão desesperadora se as classes sociais não fossem tão apartadas no Brasil, fazendo com que a classe trabalhadora e os marginalizados no sistema não tivessem nem sequer a oportunidade de entender a importância da escolaridade numa sociedade moderna.
Numa pesquisa em 10 escolas, em 2015, Márcio Pessoa, Eloisa Vidal e eu constatamos uma segunda separação no sistema educacional cearense: escolas profissionalizantes versus escolas regulares. Corroboramos a queixa dos professores de escolas regulares: de fato, os estudantes não desejam aprender, o que não ocorre nas escolas profissionalizantes pesquisadas. Como bem diagnosticou um vigia de uma das escolas profissionalizantes: “estuda aqui somente quer aprender”, tal a exigência da jornada escolar de dois longos turnos. Ficou, portanto, nos pesquisadores o questionamento de saber por que alunos da mesma classe social se diferenciam na vontade de estudar e aprender; o que leva uns a valorizar o estudo e outros, a ignorá-lo? Nossa hipótese foi a seguinte: a atitude dos pais face ao estudo dos filhos.
Numa dissertação defendida na semana passada, Harlon Santos apresentou uma pesquisa junto a pais de escolas profissionalizantes de Fortaleza. Os resultados são robustos: os pais desses alunos não somente querem que os filhos estudem como sabem da importância da aprendizagem para uma vida melhor de seus filhos, se sacrificam para proporcionar-lhes condições de estudos e acompanham seus progressos.
Os resultados dessa pesquisa são absolutamente relevantes para orientar decisões de políticas educacionais. Já que a sociedade se nega a criar um sistema educacional em que filhos de famílias de todas as classes sociais estivessem na mesma escola, é preciso empenhar-se em convencer os pais das escolas públicas regulares sobre a absoluta necessidade do estudo para que seus filhos tenham uma vida melhor do que a deles. Somente essa convicção dos pais é capaz de criar um ambiente doméstico em que haja lugar para que brote o desejo e a vontade prática de estudar; somente assim, a aprendizagem nas escolas públicas encontrará um nível adequado. Claro, isso supondo que os professores queiram ensinar e que as escolas ofereçam meios qualificados

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Os alunos não querem nada BLOG DO CARLOS DEHON Rating: 5 segunda-feira, 27 de março de 2017

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