De acordo com a última revisão da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre a saúde mental, divulgada em 2022, quase um bilhão de pessoas no planeta sofre com algum tipo de transtorno mental. O cenário preocupante se repete no Brasil, que, segundo dados da OMS de antes mesmo da pandemia, é o país com maior incidência de ansiedade e depressão da América Latina.
Desta forma, debates sobre a preservação da saúde mental se intensificam, e a campanha Janeiro Branco surge como uma forma de alertar para a importância desta temática. Criado em 2014 pelos psicólogos brasileiros Leonardo Abrahão e Valéria Ribeiro, o período é um movimento social dedicado à construção de uma cultura da Saúde Mental na humanidade, como eles definem em seu website. O objetivo é chamar a atenção dos indivíduos, das instituições, das sociedades e das autoridades para as necessidades relacionadas à Saúde Mental dos seres humanos.
Os profissionais explicam que a escolha por janeiro para ser o mês da campanha se dá por ser o primeiro mês do ano e ele inspirar as pessoas a fazerem reflexões acerca das suas vidas, das suas relações, dos sentidos que possuem, dos passados que viveram e dos objetivos que desejam alcançar no ano que se inicia. “Janeiro é uma espécie de portal entre ciclos que se fecham e ciclos que se abrem nas vidas de todos nós”, relatam. Já a cor branca foi escolhida simbolicamente para representar “folhas ou telas em branco” que ainda serão projetadas. Ao OPINIÃO CE, a psicóloga Luciana Martins, professora de Psicologia da Universidade Estadual do Ceará (Uece), explica que a saúde mental, embora conhecida como um fenômeno individual muitas vezes, é decorrente de uma série de variáveis sociais.
“Saúde mental implica sentir-se bem consigo mesmo e com os outros, lidar com as frustrações que a vida impõe de forma criativa. Para tanto, é preciso que esse mesmo indivíduo, também a partir de suas relações sociais e vivências culturais ao longo da vida, tenha desenvolvido organizadores internos para suas emoções e pensamentos.”
RELEVÂNCIA
A respeito da importância do Janeiro Branco, Luciana defende ser “um elemento importante este ano é a população não esquecermos os impactos da pandemia na saúde mental de milhares de pessoas.” “As novas gestões, tanto federal como estaduais, precisarão lidar com um excedente, um aumento populacional em sofrimento mental como nunca antes e, no entanto, não houve uma ampliação das políticas de atenção psicossocial.”
A psicóloga também considera muito importante as campanhas simbólicas dos meses, pois os processos do plano simbólico podem anteceder as mudanças materiais e concretas, até mesmo do campo do poder público.
Segundo os últimos dados da OBS, de 2017, o Brasil tem cerca de 18 milhões de pessoas afetadas com transtorno de ansiedade, o que equivalia a 9,3% da população na época, sendo o país com maior prevalência de ansiedade no mundo. Já os casos de depressão afetam 12 milhões de brasileiros, maior número da América Latina. Após a pandemia, as pesquisas indicam que os casos se agravaram mais ainda. Um estudo da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), que entrevistou 1400 pessoas espalhadas por todo o país, mostrou que casos de depressão praticamente dobraram e ansiedade e estresse aumentaram em cerca de 80%.
Uma pesquisa do Instituto Ipsos, encomendada pelo Fórum Social Mundial, indica que mais da metade (53%) dos brasileiros tiveram piora no seu bem-estar em 2020. A porcentagem foi maior apenas em outros quatro países.
ATENDIMENTOS
As secretarias de Saúde municipal de Fortaleza (SMS) e do Ceará (Sesa) realizam ações neste mês para o acolhimento de pessoas em vulnerabilidade mental. As gestões disponibilizam os Centros de Atenção Psicossocial de Fortaleza (Caps) e o Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto (HSM), este 24 horas por dia, para atender a população de forma gratuita.
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