“Meus filhos pedem um pão e eu choro”: a realidade da fome no DF

 24/08/2021 > TERÇA-FEIRA

Pandemia agrava vulnerabilidade e deixa 19 milhões de pessoas à mercê da fome e dependentes da doação de alimentos.


Em Ceilândia, mais de dez famílias dormem embaixo de um viaduto e se alimentam, principalmente, de doações

ALAN RIOS/R7 BRASÍLIA


“Meus filhos pedem um pão e eu até choro”, lamenta Cirlene de Araújo, 40 anos. Ela é moradora do Distrito Federal e dorme em uma barraca, com os cinco filhos, em uma rua de Águas Claras. Também em uma calçada na capital do país, na Asa Norte, Isabela Lourenço, 33, vive com a família. “Fiquei sem condições de pagar o aluguel, que estava caro, e vim para a rua. Aqui recebo comida, roupa. Coisas que, com meu dinheiro do Bolsa Família, não dá para comprar”. Histórias como essas se multiplicam com o aumento da vulnerabilidade social provocado pela pandemia, evidenciando a relação de distância de grande parte da população com alimento, moradia e emprego.

Nessa crise sanitária, 19 milhões de brasileiros enfrentaram a fome. Outros 43,4 milhões não tiveram alimentos em quantidade suficiente para suprir necessidades básicas. Os dados são do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), em dezembro de 2020. A pesquisa ainda levantou que a insegurança alimentar grave, caracterizada pela privação severa no consumo de alimentos, foi seis vezes maior para os desempregados.

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, o Brasil teve 14,8 milhões de pessoas buscando trabalho no país no primeiro trimestre deste ano. O levantamento, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou ainda 34,7 milhões de pessoas em trabalhos informais no período. Cirlene faz parte desse número. A comida que ela dará aos cinco filhos depende, principalmente, de materiais recicláveis encontrados no lixo.

“A gente faz um trabalho de reciclagem, mas muita gente ficou desempregada e começou a fazer também. É muita concorrência. A gente vai procurar material em uma lixeira e vê que três ou quatro pessoas já passaram por lá. Como entrou muita gente nisso, os lixos ficam revirados e as pessoas passam a trancar. Isso prejudica muito”, relata. O alimento da família também vem por meio de doações de “boas almas”, como ela chama, ou pequenas porções de arroz e feijão que compra fiado no mercado e paga assim que recebe o Bolsa Família.

R7

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