'Silenciada', 'manobra do pai', 'vagabunda': o retrato da violência política contra mulheres no Ceará


Na tribuna da Câmara Municipal de uma cidade cearense, uma vereadora sobe a tribuna para defender uma demanda da população: a instalação de ar-condicionado no transporte escolar. A reivindicação não é nova, sendo inclusive comum em muitos outros municípios do Estado. Em resposta, um colega vereador pede a proibição da fala da parlamentar. O motivo? A exigência de melhorias é 'coisa de mulher', 'fricote'.

Em outro ponto do Ceará, uma vereadora recebe o apelido de "mulher-macho" por se posicionar nas sessões plenárias — conduta que deveria ser comum a qualquer parlamentar no exercício do mandato. O autor é o mesmo vereador que "tentou impedir minha fala" e procura "em todos os espaços me desqualificar", relata a parlamentar.

Mas elas não são apenas alvos de ataques diretos. "Houve momentos de consultarem, antes de falar comigo, meu irmão ou marido", diz uma vereadora cearense sobre o início do exercício do mandato parlamentar. Outra vereadora precisou ouvir que era "apenas uma manobra do pai para voltar ao poder". "(O vereador) disse que eu era apenas um 'mecanismo', ele utilizou essas palavras", diz.

"Sempre preciso estar acompanhada de uma figura masculina, de marido ou irmão, em eventos ou reuniões para ser vista. Em algumas decisões políticas, votações importantes, mudanças de partidos, articulação política, acordos, sempre o convite ou a conversa é direcionado ao meu irmão, como se eu fosse sua acompanhante ou subordinada a ele", conta mais uma parlamentar.

Os cinco relatos foram feitos de forma anônima por vereadoras de cidades cearenses ao Observatório da Mulher Cearense, vinculado à Procuradoria Especial da Mulher da Assembleia Legislativa do Ceará (Alece). Ao todo, 46 mulheres que exercem mandato como vereadoras falaram sobre os episódios sofridos de violência política de gênero, crime tipificado em 2021 para uma conduta repetida desde os primeiros momentos de liberação dos direitos políticos para as mulheres — e mesmo antes.

(*) Diário do Nordeste

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