A filiação de oito deputados estaduais do PDT ao PSB, na sexta-feira (7), compõe mais um capítulo da crise interna da sigla que há pouco mais de três anos era a principal força política do Ceará. Desde as eleições de 2022, a legenda registrou uma debandada de prefeitos e de parlamentares. A desidratação, no entanto, ainda promete novos capítulos, com a perspectiva de que, até o próximo ano, os deputados federais sigam os passos dos estaduais.
O Diário do Nordeste procurou lideranças pedetistas que permanecem na sigla e ouviu cientistas políticas sobre os rumos da legenda no Ceará. Ao todo, o partido tinha 13 deputados estaduais, contudo, a bancada reduziu para cinco nomes: Antônio Henrique, Cláudio Pinho, Bruno Pedrosa (aliado de Cid, mas decidiu ficar na sigla), Queiroz Filho e Lucinildo Frota (eleito pelo PMN, mudou para o partido). Nessa nova conjuntura, a maioria da bancada do partido será da oposição no Estado.
A lista dos que saíram tem: Antônio Granja (suplente em exercício), Guilherme Landim, Guilherme Bismarck (suplente em exercício), Jeová Mota, Lia Gomes (licenciada), Marcos Sobreira, Oriel Nunes (licenciado), Osmar Baquit (licenciado), Romeu Aldigueri, Salmito Filho, Sérgio Aguiar e Tin Gomes (suplente em exercício).
O grupo seguiu o rumo tomado pelo senador Cid Gomes (PSB), por dezenas de prefeitos e centenas de vereadores que deixaram os quadros pedetistas em fevereiro do ano passado e se filiaram ao PSB. A perda de nomes se refletiu em enfraquecimento eleitoral. No pleito de 2024, o PDT elegeu apenas 5 prefeitos, número bem inferior aos 67 eleitos em 2020.
A cientista política e professora da Universidade de Fortaleza (Unifor), Mariana Dionísio, ressaltou que essa saída de mandatários pedetistas ocorre em um ritmo fragmentado, o que torna a situação da sigla ainda mais delicada.
“Entre 2023 e 2024, 40 prefeitos pediram desfiliação do partido e, agora, deputados eleitos pelo PDT se juntam à sigla do principal dissidente: o PSB de Cid Gomes. Essa transição é o reflexo claro desta disputa interna e sinaliza a desidratação da legenda. Há poucas esperanças para a sobrevivência política do PDT enquanto as disputas internas não forem resolvidas. Quando Ciro Gomes decidiu pelo isolamento da sigla em prol de uma estratégia política que flertava com a independência, acabou por desperdiçar alianças e prolongar a crise”, disse.
A perda de quadros, no entanto, não é o único revés do PDT. Outra derrota importante ocorreu na capital cearense, onde o prefeito José Sarto (PDT), que disputou a reeleição, ficou em terceiro lugar. O mau desempenho nas urnas se refletiu nacionalmente, com o PDT saindo do rol de partidos com prefeitos eleitos em capitais. Soma-se a isso o quarto lugar de Ciro Gomes (PDT) na corrida pela Presidência da República em 2022.
“Aqui no Ceará, historicamente, o PDT era muito pequeno, com pouca representatividade nas casas legislativas e nas prefeituras. Esse cenário mudou com a entrada dos Ferreira Gomes, em 2015, a legenda tornou-se, essa máquina partidária, recebeu lideranças importantes com capacidade de organizar, articular com a máquina pública, atrair outras lideranças, ocupar espaços de poder. Então, a título do que o PDT pode estar se tornando, a tendência é que ele volte a ser uma sigla inexpressiva no Estado”Monalisa Torres
Professora de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece)
O PDT QUE FICA
Entre os nomes que se mantêm no PDT, uma das saídas encontradas por parte do grupo foi se reaproximar do grupo governista em Fortaleza. Esse movimento gerou uma nova divisão na legenda, já que os aliados mais fiéis ao ex-prefeito Roberto Cláudio (PDT) e a Ciro Gomes defendem que a sigla seja oposição municipal, estadual e nacional ao PT.
Na Câmara de Fortaleza, Jânio Henrique (PDT) e PPCell (PDT) integram essa ala. "Estou aqui para declarar para os meus eleitores e para o povo de Fortaleza que farei uma oposição ao PT, consequentemente, ao governo de Evandro Leitão. Uma oposição séria, coerente e, acima de tudo, propositiva, sempre propondo melhorias e benfeitorias. Quando prefeito acertar, vou estar lá para aplaudir e apoiar, quando errar, vou estar lá para cobrar", disse PPCell, em vídeo nas redes sociais, na última terça-feira (4).
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