Bolsonaro quer ser discreto, ao entregar ministérios e cargos ao centrão. Faz parte do jogo político

Presidente Bolsonaro
Com a eleição de Arthur Lira (PP-AL), para o comando da Câmara, e de Rodrigo Pacheco (DEM-MG), para a presidência do Senado, partidos que integram o centrão pressionam o Palácio do Planalto a pagar, já no início deste ano, a fatura pelo apoio aos candidatos do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

As exigências do grupo não são apenas por espaço na Esplanada dos Ministérios, como os comandos das pastas da Cidadania e do Desenvolvimento Regional.

As legendas cobram, também, postos de segundo e terceiro escalões, sinalizados durante a campanha legislativa ou prometidos no ano passado, mas que ainda não foram entregues.

A relação de cargos que, segundo assessores presidenciais, tem sido discutida com a articulação política do Planalto inclui do comando do Banco do Brasil à direção da Casa da Moeda.

Com o rearranjo de siglas da base aliada, o apetite dos partidos governistas abrange, também, postos que antes haviam sido prometidos ou mesmo já eram ocupados por indicados de congressistas do DEM, MDB e Solidariedade. Eles foram exonerados, por causa do apoio de seus padrinhos ao deputado Baleia Rossi (MDB-SP).

No mês passado, Bolsonaro pediu ao ministro da Economia, Paulo Guedes, a demissão do presidente do Banco do Brasil, André Brandão. O mandatário se irritou com o plano de demissão voluntária aberto pela instituição financeira.

Bolsonaro foi convencido a suspender a demissão, a pedido de Guedes e do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Segundo relatos, desde o início desta semana, ele voltou a cogitar uma troca, que seria incluída no rastro da reforma ministerial.

A fritura de Brandão passou a ganhar força, após deputados do centrão terem defendido a necessidade de o Banco do Brasil ser administrado por um nome afinado a Bolsonaro, assim como é Pedro Guimarães, que comanda a Caixa. Eles criticam, também, o plano de fechamento de 361 agências anunciado pelo BB.

O Banco do Brasil é uma sociedade aberta, cujo preço das ações pode sofrer queda, diante de interferências do poder público. O cálculo feito por integrantes do governo é de que a nomeação de um indicado pelo centrão possa evitar uma troca ministerial para acomodar uma das siglas da base.

Além da instituição financeira, a Casa da Moeda, também, tem sido alvo de cobiça. Neste caso, contudo, Bolsonaro tem resistido à uma mudança. O PTB, que já teve apadrinhados à frente do órgão, voltou a se interessar pelo posto. O ex-deputado Roberto Jeferson já fez a indicação.

Por ora, Bolsonaro tem afirmado que manterá no cargo o vice-almirante Hugo Cavalcante Nogueira. A Casa da Moeda, responsável pela impressão de dinheiro no país, é vista como estratégica pela cúpula militar.

Na pasta Desenvolvimento Regional, que também deve ser incluída na reforma ministerial, as Secretarias de Habitação e de Saneamento estão no alvo de PL e PP, respectivamente. As duas siglas detêm as maiores bancadas no bloco do centrão, com 41 deputados federais cada uma.

Além deles, há interesse do bloco por cargos federais, que foram retirados de apoiadores de Baleia, como a Superintendência do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) no Acre e Ceará e a Superintendência do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) em Sergipe, Ceará, Bahia e Rio Grande do Norte.

Desde o ano passado, deputados e senadores têm dito que o processo de aceitação das indicações para cargos no governo tornou-se mais lento. Além do filtro técnico da Abin (Agência Brasileira de Informação), os sugeridos, também, passam pelo que foi batizado de "Abin ideológica", uma varredura nas redes sociais para detectar publicações que tragam, por exemplo, críticas ao governo.

Segundo eles, para eleger Lira e Pacheco, a maioria dos acenos feitos pelo governo não foi baseada em cargos, mas na oferta de recursos extraorçamentários, dinheiro destinado aos cofres das bases eleitorais por indicação do parlamentar.

O presidente pretende fazer uma reforma ministerial a conta-gotas, até julho. A mudança imediata, que deve ocorrer nos próximos dias, é a saída de Onyx Lorenzoni, da Cidadania — que será dada ao Republicanos— para a Secretaria-Geral da Presidência.

Ao assumir a Cidadania, o partido ligado à Igreja Universal poderá indicar centenas de cargos vinculados a 19 secretarias e subsecretarias e sete diretorias.

Já a Secretaria-Geral, deve manter sua atual estrutura, embora esteja previsto que o titular da SAJ (Subchefia para Assuntos Jurídicos) se reporte diretamente a Bolsonaro, não mais ao ministro da pasta.

Ao levar de volta Onyx para dentro do Planalto, onde funciona o gabinete da pasta, a ideia do presidente é restabelecer um equilíbrio à chamada cozinha do governo, hoje, dominada por ministros militares, alvos de críticas, por falta de traquejo político.

A verdade que existe para o centrão é o plenário, onde os votos fazem a diferença. Só terá mudança, com votações de reformas, se o governo Bolsonaro cumprir o prometido.

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