Quatro secretários do Ministério da Economia pedem demissão após Paulo Guedes ceder a pressões do presidente Jair Bolsonaro e admitir mudanças na regra que limita o crescimento das despesas públicas. Analistas preveem elevação de juros.
Considerado um dos principais defensores de uma política de equilíbrio fiscal, Bruno Funchal deixa o cargo por divergir dos rumos do governo - (crédito: Ministério da Economia/Divulgação) |
Depois de aceitar mudanças na regra do teto de gastos para garantir a implementação do Auxílio Brasil, o novo programa fiscal desejado pelo presidente Jair Bolsonaro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, perdeu mais quatro integrantes da pasta. Pediram demissão, “por motivos pessoais”, o secretário especial do Tesouro e Orçamento, Bruno Funchal; o secretário do Tesouro Nacional, Jeferson Bittencourt; a secretária especial adjunta do Tesouro e Orçamento, Gildenora Dantas; e o secretário-adjunto do Tesouro Nacional, Rafael Araújo.
A pasta ainda não informou o nome dos substitutos, mas disse que, até serem nomeados, os atuais secretários continuam no cargo. Ao O Estado de S. Paulo, Funchal, considerado o principal fiador da política fiscal, disse que a saída foi “uma questão de princípios”. Ele Bittencourt foram para a Economia a convite do ex-secretário especial da Fazenda Waldery Rodrigues, que deixou o cargo em maio deste ano.
De acordo com fontes ouvidas pelo Correio, são cogitados como substitutos de Funchal o ex-ministro do Planejamento e atual chefe da Assessoria Especial de Assuntos Institucionais do Ministério da Economia, Esteves Colnago, e o diretor de Organização do Sistema Financeiro e Resolução do Banco Central, João Manoel Pinho de Mello, cujo mandato no BC termina em 31 de dezembro.
Licença para gastar
A nova debandada na pasta ocorre após as afirmações de Guedes, na quarta-feira, de que pediria uma “licença” para desobedecer a regra do teto, vista como um dos principais mecanismos de controle fiscal. A virada populista do ministro fez o dólar atingir a maior cotação em seis meses e a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) desabar (leia na página 8). No mercado financeiro, a declaração foi vista como a confirmação de que o teto passou a ser uma referência meramente formal, que pode ser ajustado conforme as conveniências do governo. Com a queda da Bolsa, os investidores perderam R$ 284,4 bilhões, em um único dia, no valor de mercado das ações, segundo cálculos da consultoria Economatica.
“Guedes criou hoje o teto de gastos endógeno. Quando as despesas batem no teto e o governo quer gastar mais, eleva-se a altura do teto. Se eu soubesse que seria assim, não teria perdido tanto tempo criticando o teto de gastos”, ironizou o economista José Luis Oreiro, professor da Universidade de Brasília (UnB).
(*) CORREIO BRAZILIENSE
www.carlosdehon.com
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