Com tráfico e milícia, intolerância religiosa reflete a política no Brasil, dizem pesquisadores


Nesta quinta-feira (21), o Brasil comemora o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa. Para debater os desdobramentos da questão, a Sputnik Brasil ouviu líderes religiosos, pesquisadores e ativistas que explicaram as ligações da intolerância com a política e o racismo no país.
No Brasil, apesar da laicidade do Estado e dos direitos constitucionais, a intolerância religiosa continua sendo um problema grave e tem como principal alvo as religiões de matriz africana, um fenômeno que se entrelaça com a história da escravidão no país e a presença do racismo. Ao longo dos séculos, essa perseguição mudou de forma e hoje se expressa tanto na política institucional e na atividade de fundamentalistas religiosos, até a ação de grupos armados de traficantes e milícias em favelas.
É o que explica o babalaô Ivanir dos Santos, professor doutor que leciona no Programa de Pós-Graduação em História Comparada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O pesquisador ressalta que o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa expressa um quadro grave, sendo comemorado no dia 21 de janeiro, justamente em homenagem a uma vítima fatal da intolerância religiosa. A data foi determinada pela Lei 11.635, em 2007.
"É o dia que morre uma sacerdotisa de candomblé na Bahia, logo após ela ver sua foto estampada na Folha Universal - o jornal da Igreja Universal - a chamando de charlatã. Ela teve um AVC e faleceu neste dia. Isso mostra completamente o quanto a intolerância religiosa cria vítimas de morte", aponta o babalaô Ivanir dos Santos em entrevista à Sputnik Brasil, lembrando a morte da baiana Gildásia dos Santos, a Mãe Gilda, em 1999.
Na quarta-feira (20), o Instituto de Segurança Pública (ISP) do governo do estado do Rio de Janeiro, publicou dados apontando que 1.355 casos que podem estar relacionados à intolerância religiosa foram registrados no território fluminense ao longo de 2020. Do total, 23 casos foram de ultraje a culto religioso, 1.188 casos de injúria por preconceito e 144 casos de preconceito de raça, cor, religião, etnia e procedência nacional. O ISP alerta ainda que esses dados são "muito subnotificados" e estimula a denúncia. O relatório foi lançado em função da data de 21 de janeiro.
"Os dados estão subestimados porque não falam justamente dessas áreas ocupadas. O tráfico em aliança agora com a milícia [...] intimida, inclusive, a prática [religiosa] em si, o que faz com que ninguém vá denunciar. Se levar em conta quantos lugares religiosos ali estão silenciados, são vários", avalia o pesquisador e babalaô Ivanir dos Santos.
(*)Sputniknews > Veja matéria completa)

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