Caso Herzog não é sobre o passado, é sobre o presente, de filho de jornalista assassinado

Ivo Herzog é filho do jornalista Vladimir Herzog,
 assassinado pela
ditadura militar(foto: Bárbara Moira)
Falar da morte de Vladimir Herzog não se trata do passado, mas do presente, defendeu Ivo Herzog, filho do jornalista assassinado durante a ditadura militar por agentes da repressão. Ivo fez palestra na tarde desta sexta-feira, 10, na sede da Ordem dos Advogados do Brasil no Ceará (OAB-CE), em Fortaleza, para marcar o Dia Internacional dos Direitos Humanos, comemorado nesta data.

Ele falou sobre as marcas da ditadura militar que ecoam ainda nos dias de hoje, sem que o Brasil tenha ainda prestado contas desse passado. "Devemos virar a página da história daquele triste período, mas primeiro precisamos escrever aquela página em sua totalidade", afirmou.

Ivo Herzog aponta que a dimensão que o assassinato do pai adquiriu na história brasileira começou a se configurar já no dia seguinte, quando o funeral se converteu num ato de resistência e negação da versão oficial de suicídio. Uma multidão estava lá, e houve comoção. As autoridades do regime mandaram apressar o enterro. A viúva, Clarice Herzog, não aceitou.

Pela tradição judaica, Herzog deveria ser sepultado junto aos muros do cemitério, como suicida. Mas, foi enterrado na parte central, numa negação da versão oficial. Em 2013, a família obteve um novo atestado de óbito, para substituir o anterior que apontava suicídio como causa da morte.

Porém disse Ivo, a família segue lutando por verdade e justiça. A primeira vitória veio em 1978, quando o juiz Márcio José de Moraes condenou a União pelo assassinato de Herzog, primeira decisão do tipo na Justiça comum. Ivo luta pela revisão da Lei da Anistia. No mundo todo, ele aponta, anistia perdoa crimes políticos. "A Lei de Anistia brasileira perdoa agentes de Estado que tenham cometido crimes comuns, como tortura e assassinato."

O filho mais velho de Vladimir Herzog cobra que o País cumpra a decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), que condenou o Brasil por não investigar e punir o assassinato. Em resposta àqueles que alegam que o Brasil não precisa cumprir determinação de cortes internacionais por ter soberania, Ivo ressalta que foi de forma soberana que o País decidiu aderir às instâncias internacionais. "a soberania foi exercida no momento em que subscreveu."

Entre as determinações da corte, está a realização de ato público de pedido de perdão, com a presença das Forcas Armadas. O ato até hoje não ocorreu.

Ao compartilhar a história da própria família, Ivo argumenta que a democracia é uma construção feita a cada momento, em casa, na escola, nos bares. Ele destacou avanços autoritários no Brasil de hoje, como na violência contra a imprensa.

"Dá trabalho viver em uma democracia", ele aponta. Ainda assim, lembra Winston Churchill: "A democracia é a pior forma de governo, com exceção de todas as demais formas que já foram experimentadas."

(*) O POVO

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