Namorados para sempre: amor que resiste ao tempo

O amor de Ana e Miguel, forjado em gestos simples e profundos, é prova de que estar “para sempre, namorados” é uma construção diária feita de carinho, cuidado, escuta e muito afeto. E que, mesmo depois de 41 anos, o coração ainda pode bater mais forte só de pensar no outro

Rafael Lucena
rafael@ootimista.com.br

E m tempos em que as relações parecem cada vez mais frágeis, conhecer a história de Ana Márcia Diógenes, 61, jornalista e escritora, e Miguel Macedo, 67, jornalista e professor universitário, é como ouvir uma canção antiga que ainda toca fundo no coração. Eles estão juntos há 41 anos. Juntos de verdade: dividindo a casa, a vida, os sonhos e o creme dental.

O casal se conheceu nos corredores da Universidade Federal do Ceará (UFC), no curso de Jornalismo. Miguel era da turma de 1980 e, Ana, da de 1981. Fizeram apenas uma disciplina juntos, mas suficiente para que a conexão florescesse. Em dezembro de 1983, começaram a namorar. Dois meses depois, já moravam juntos. Em julho de 1984, oficializaram a união civil.

Desde então, criaram rituais afetivos e construíram uma história cheia de afeto cotidiano. “Comemoramos três datas: a do namoro, a ida à Jericoacoara quando decidimos morar juntos e a do casamento”, conta Ana. Nesse ritmo de celebração constante, o Dia dos Namorados continua ganhando novos significados ano após ano.

“Tem ano que a gente janta fora, tem ano que desce até a Beira-Mar e caminha, outro em que vai ao Centro tomar caldo de cana com pastel - quer dizer, só eu, porque o Miguel descobriu a doença celíaca e não pode mais. Já fomos até um sítio em Messejana onde demos o primeiro beijo, só para relembrar”, narra Ana, com o tom doce de quem guarda cada memória como uma joia.

Mas o romantismo não está apenas nos grandes gestos. “Colocar creme dental na escova do outro, manhã, tarde e noite... a Ana aguentar meu ronco e me cutucar para eu mudar de posição quando dormimos, quer prova de amor maior do que essa?”, brinca Miguel.

O amor e o tempo
Para a psicóloga e terapeuta de casais Priscilla Costa, histórias como essa ajudam a desmistificar a ideia de que o amor se esgota com o tempo. “O Dia dos Namorados pode funcionar como um marco simbólico, um convite a sair do automático da rotina e olhar de maneira intencional para o relacionamento”, explica. Segundo ela, casais que mantêm o clima de namoro ao longo dos anos são aqueles que cuidam do vínculo com constância, curiosidade e pequenos gestos que reafirmam a parceria.

E isso, Ana e Miguel fazem com maestria. “A gente tem prazer de ver o outro bem. É como se fosse uma brincadeira nossa: quem vai dar o pedaço maior do bife? Porque, quando você ama, quer que o outro fique feliz. Eu quero dar o melhor pedaço para ele e ele também para mim”, revela Ana. Pode parecer banal, mas é nesses gestos que mora o segredo da longevidade afetiva.

Houve momentos difíceis. Ana lembra da gravidez do primeiro filho, João Miguel, com incertezas médicas. Ou da demissão simultânea do casal, na época em que o bebê tinha oito meses e estavam prestes a fechar o financiamento de um apartamento. “Foram anos difíceis. Mas a gente fez um pacto de enfrentar juntos”, conta ela.

Segundo Priscilla, esse tipo de parceria é um alicerce emocional poderoso. “Manter o clima de namoro não significa viver em constante romantização, mas preservar espaços onde o afeto continue circulando, mesmo nas fases desafiadoras. O humor, por exemplo, é um dos recursos mais importantes: rir junto é uma forma de resistência afetiva”.

Ana confirma. “Um casal que ri de si mesmo depois de tantos anos é porque continua encantado um com o outro”. E esse encantamento, ela diz, está no toque, no olhar, no andar de mãos dadas, em ouvir o outro com atenção, mesmo nos dias corridos. “É estar junto porque é bom estar junto. Não é por conveniência, é por escolha. Todos os dias”.

Hoje, com os filhos crescidos e fora de casa, Ana e Miguel vivem a dois outra vez, com a leveza de quem já enfrentou tempestades, mas decidiu continuar escolhendo o amor. “É um namoro e um casamento ao mesmo tempo. Um namoro contínuo”, define Ana, emocionada.

(*) O Otimista

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