Em artigo publicado na última quinta-feira (7/8), a revista britânica The Economist analisa a postura do ex-presidente Donald Trump em relação ao Brasil e alerta que suas ações podem acabar pesando no bolso dos consumidores americanos — inclusive no preço do hambúrguer.
No texto, intitulado "Até que ponto bater no Brasil é colocar EUA em primeiro lugar?", a revista afirma que o presidente americano incorreu em uma série de contradições para justificar as tarifas de importação impostas a produtos brasileiros.
"Trump apontou para os déficits comerciais bilaterais como uma emergência para justificar suas outras tarifas", diz a revista, "mas os Estados Unidos têm superávit comercial com o Brasil há mais de dez anos".
"Os exportadores brasileiros podem encontrar rapidamente novos mercados para commodities como carne bovina e café, que, ao contrário do suco de laranja, Trump não isentou de sua tarifa. Se os americanos acabarem pagando mais por hambúrgueres para ajudar um amigo de Donald Trump a evitar seu dia no tribunal, eles estarão certos em se perguntar quem está realmente sendo colocado em primeiro lugar."
O artigo começa expondo como o presidente americano contradisse uma diretriz anunciada pelo seu próprio secretário de Estado, Marco Rubio, que, em 17 de julho, "enviou um memorando aos diplomatas dos EUA recuando de uma prioridade de décadas: a promoção da democracia no exterior".
A nova diretriz, diz o texto, era para que os diplomatas "apenas cumprimentassem o candidato vencedor em eleições estrangeiras, sem 'opinar' sobre a lisura do processo ou mesmo sobre 'os valores democráticos do país em questão'. "A mudança, escreveu Rubio, 'seria em linha com a ênfase do governo na soberania nacional'", disse a revista.
"No entanto, Trump não seguiu essa diretriz", afirma a revista. "No mesmo dia, ele publicou nas redes sociais uma carta a Bolsonaro, que enfrenta acusações de conspirar para um golpe após perder as eleições de 2022."
"Trump, que vê Bolsonaro como um homem de força que o idolatra, reclamou do 'tratamento terrível' dado a Bolsonaro por 'um sistema injusto'. E seguiu atacando os valores democráticos brasileiros, acusando seu governo de ser um 'regime censurador ridículo'."
A Economist ainda relata que, cerca de duas semanas depois, Trump foi além das críticas e impôs uma tarifa de 50% sobre importações brasileiras, citando o processo contra Bolsonaro. E que Rubio, por sua vez, recorreu à Lei Magnitsky Global para sancionar o juiz responsável pelo caso, dizendo que a medida serveria como aviso a quem viola direitos fundamentais.
Segundo a revista, é difícil rotular a política externa de Trump, já que ele se descreve como sendo, ao mesmo tempo "nacionalista e globalista". Essa ambiguidade se reflete em sua postura seletiva na defesa de direitos humanos — atuando em casos como o do Brasil, mas não em El Salvador, e condenando o antissemitismo em Harvard, mas não em figuras como Kanye West, diz a revista.
A publicação lembra que, embora Trump exalte a soberania nacional em discursos ( como os que fez na ONU e na Arábia Saudita), seu governo também protagonizou ações intervencionistas, como pressões sobre Canadá, Groenlândia e o Canal do Panamá.
A expressão "America First" ("Estados Unidos em primeiro lugar"), que Trump usa para marcar sua política externa, diz a Economist, contribui para a confusão.
"O significado histórico do termo, combinado com o abuso de aliados por Trump e seu desprezo pelas instituições internacionais, levou admiradores e adversários a considerá-lo um isolacionista. Ele não é. Ele acredita firmemente na diplomacia (quando a conduz) e também na ação militar unilateral (quando está no comando dela). Ele não retirou a liderança americana do mundo; em vez disso, declarou-se livre para exercer essa liderança onde, quando e como quiser."
Internamente, invoca direitos estaduais quando conveniente, mas também age de forma autoritária, como no uso da Guarda Nacional contra governadores.
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