Vacinação contra covid-19 contribui para a contenção da variante indiana

 Ampliação da imunização contra covid-19 no Brasil e presença de uma variante com poder elevado de transmissão no País, como o caso da de Manaus, segundo especialistas, ajudam a explicar por que o Brasil registrou até o momento 15 casos da cepa vinda da Índia.

Foto: Edimar Soares / O Otimista

O Brasil chegou nesta terça-feira (6) a 15 casos confirmados de covid-19 da variante Delta, segundo dados do Ministério da Saúde.

Com base em sequenciamento genético realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), é possível perceber que a cepa originada na Índia circula em território nacional desde abril último e não conseguiu ser percebida de forma expressiva no número de novos casos, principalmente quando comparada à variante Gama, oriunda de Manaus.

Os motivos, segundo especialistas consultados pelo O Otimista, estão atrelados à disseminação da Gama, mais agressiva, e também à campanha de vacinação contra a covid-19.

O infectologista Gerson Salvador, do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (USP), explica que predomina no Brasil a variante de Manaus. “Uma variante só vai se multiplicar se tiver vantagem competitiva em relação à que estava antes. No Brasil, a Delta entra em um território com uma variante que já se replica com mais facilidade e com uma população cada vez mais imunizada”, explica. O médico lembra que, na Índia e nos Reino Unido, a Delta foi responsável por um grande número de casos e segue vista com preocupação pelas entidades internacionais.

“Sem dúvidas, a vacinação está tendo um papel para contenção da variante indiana”, defende o epidemiologista Luciano Pamplona, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC). O docente destaca também o caráter de sazonalidade que a própria doença parece ter assumido.

“Em se tratando de gripes, este é, tradicionalmente, um cenário de menor incidência, diferente dos meses de abril e maio, por exemplo.” Pamplona, contudo, não descarta a possibilidade de haver subnotificação de casos envolvendo a variante indiana. “Apesar de termos muitas confirmações diárias de casos gerais, ainda tem uma grande parcela que não é testada”, explica. Testes da Fiocruz indicam que a primeira morte decorrente da Delta foi de uma gestante de 42 anos, em 18 de abril, no Paraná. A segunda foi de um tripulante de um navio no Maranhão, em 24 de junho.
Danielber Noronha
danielber@ootimista.com.br


Em consonância, Salvador e Pamplona reconhecem o andamento mais célere da vacinação, mas ponderam sobre possíveis riscos de novas variantes surgirem no Brasil. “Todo país que tem uma população do tamanho da nossa, a exemplo da China e dos Estados Unidos, vai ser um celeiro para novas cepas, principalmente se estiver com altos níveis de transmissão”, justifica o professor da UFC.

“Temos ampliado a vacinação de maneira que idosos e pessoas com comorbidades já estão imunizadas, o que tem feito com que o vírus circule menos e, principalmente, na diminuição da mortalidade e das taxas de internação”, acrescenta o médico da USP.

Eficácia da vacina
“Felizmente, os testes que temos têm se mostrado eficazes, com exceção da vacina da AstraZeneca que tem menos eficácia contra a variante Beta. Em relação às outras, estudos imunológicos mostram que as vacinas conseguem neutralizar as variantes”, reforça Salvador.

A Johnson & Johnson anunciou, na última semana, que a vacina da Janssen, de dose única contra o coronavírus, é eficaz contra a variante Delta, com uma resposta imunológica que dura, pelo menos, oito meses. Já a vacina desenvolvida pela AstraZeneca, conforme comunicado da farmacêutica, tem eficácia de 64% contra a variante indiana. Eficácia sobe para 92% contra hospitalizações entre infectados. A eficácia da vacina da Pfizer/BioNTech, segundo estudo divulgado na última semana, caiu de 91,2% para 64% em Israel.

A vacina, no entanto, continua efetiva na prevenção de hospitalizações e sintomas graves, com eficácia de 93%. No caso da CoronaVac, Liu Peicheng, porta-voz da Sinovac, fabricante responsável, afirmou que resultados preliminares baseados em amostras de sangue de pessoas inoculadas mostraram uma redução de três vezes na neutralização do efeito contra a Delta. Porém, a declaração se baseia em análises de uma pequena amostragem.

Sesa e Ministério
À reportagem, a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) informou que não há ainda registros da presença da Delta no Estado e que circula em território estadual a de Manaus. “A Vigilância Epidemiológica das novas variantes continua sendo realizada, com objetivo de identificar outras cepas que já circulam no Brasil”, diz a pasta.

Também por meio de nota, o Ministério informou onde se localizam as primeiras infecções provenientes da Delta: seis no navio que estava no Maranhão, três no Rio de Janeiro, um em Minas Gerais, dois no Paraná, dois em Goiás, além do mais recente em SP.

A pasta afirma que os casos estão sendo monitorados pelas equipes de Vigilância Epidemiológica e Centro de Informações Estratégicas em Vigilância e Saúde (Cievs) locais. “Os dados coletados até o momento não demonstram circulação comunitária, no entanto, é importante ressaltar que as investigações estão em andamento”, respondeu.

Até agora, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou quatro variantes de “preocupação”. A indicação classifica as mutações no genoma capazes de aumentar a transmissibilidade da doença. A primeira, B.1.351 (Beta), foi mapeada pela primeira vez em maio de 2020, na África do Sul; a segunda foi a B.1.1.7 (Alpha), encontrada no Reino Unido em setembro do mesmo ano; na sequência, tem a Delta, documentada inicialmente na Índia, em outubro do ano passado; por fim, houve o registro da P.1 (Gama), em novembro de 2020. Segundo a OMS, a Delta já foi confirmada em, pelo menos, 92 países.

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