Um ministro da família



O presidente Bolsonaro disse que “bota a cara dele no fogo” pelo ministro da Educação, Milton Ribeiro. O filho do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro, afirmou que o ministro é “amigo da família”. O senador Flávio Bolsonaro foi mais profundo, ao afirmar que tudo isso não passa de invenção da imprensa e de uma “narrativa dos mesmos”. Os Bolsonaros jogam toda a culpa do envolvimento de um ministro com corrupção na imprensa.

No país livre chamado Brasil, a imprensa se mantém firme no seu papel de vigiar o destino do dinheiro público, o que deveria ser um papel do Ministério Público, Controladoria Geral da União e dos tribunais de contas. A imprensa não colocou revólver na cabeça de prefeitos para que denunciassem pastores alimentados de propina no escritório montado na sala ao lado do ministro da Educação. Simplesmente, os prefeitos estão revoltados porque não aceitaram pagar suborno e, por isso, não tiveram recursos liberados para construção de escolas e compra de material escolar. Se esse fato não tiver relevância, a coisa está bem pior do que nos tempos da Petrobras, saqueada pela turma do deputado Eduardo Cunha, que ameaça voltar ao Congresso Nacional, em outubro.

O silêncio das pessoas pagas com o dinheiro do contribuinte sobre o grave episódio denunciado pelos prefeitos aos jornais Estadão e o Globo, envolvendo o ministro da Educação e evangélicos, é grave. O setor é a base de uma Nação. Essa denúncia não pode ser vista com descaso. É necessário investigar, afastar servidores públicos e prender quem está envolvido. Roubar o dinheiro das crianças que estão sem escola ou a frequentam e precisam de material escolar não pode ficar sem punição. Não se trata de analisar de onde partiu a denúncia e, sim, o peso e a gravidade da montagem de um antro de bandidos dentro de um ministério, que tem obrigação de ter gente honesta.

É muito difícil um governante demitir um assessor por pressão, denúncia ou interesse político. Para o presidente Bolsonaro, não é diferente. Ele sabe que o centrão quer a cadeira do ministro e comandar o ministério mais poderoso financeiramente. Militar, esperto, carioca, conhecedor dos esquemas de desvio de verbas, o presidente vai botar panos frios. Depois, como ele mesmo gosta de falar na linguagem do Exército, dará a canetada. O centrão vai levar o ministério, já entrou no jogo político do apoio.

De passagem pelo Ceará, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, e o procurador Geral da República, Augusto Aras, disseram que vão apurar o caso. O ministro Milton Ribeiro será capa das páginas policiais, até o esclarecimento final sobre corrupção no Ministério da Educação.

(*) RB

Related Post

Um ministro da família BLOG DO CARLOS DEHON Rating: 5 segunda-feira, 28 de março de 2022

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...