A chapa de Lula com Alckmin é boa ou ruim para o petista? Especialistas analisam

Um jantar reuniu empresários, políticos, advogados e, principalmente, o ex-presidente Lula (PT) e o ex-governador de Geraldo Alckmin (sem partido). A reunião deixou mais próxima a possibilidade de uma chapa presidencial para as eleições de 2022.

Alckmin, que chegou ao segundo turno em 2006 na disputa contra Lula, acaba de deixar o PSDB, partido ao qual foi filiado por mais de três décadas. Agora o político está se decidindo entre a disputa ao governo de São Paulo, pelo PSD, e a composição de chapa com Lula, pelo PSB.

A reunião dos dois para um possível mandato tem despertado diferentes opiniões. De um lado, a esquerda argumenta que o petista poderia encontrar no espectro político nomes que funcionariam perfeitamente para a chapa. De outro, comentários de que o ex-tucano e Lula estariam num “vale-tudo” pelo poder.

Especialistas consultados pelo O POVO dissertam sobre a seguinte pergunta: Lula perde ou ganha numa chapa com Alckmin?

Deysi Cioccari, jornalista e doutora em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), concorda que o ex-tucano pode não ser a melhor opção de chapa para Lula. Ela avalia que Alckmin não se dará por satisfeito como vice. Além disso, a composição com ele abre uma desconfiança interna no Partido dos Trabalhadores.

“Alckmin é um personagem político que dificilmente se contentará com papel de coadjuvante na política. A médio e longo prazo certamente terá problemas com um político acostumado aos holofotes e quem sempre foi cabeça de chapa. Se conseguir convencer o PT, mesmo assim abre uma desconfiança interna. Vão paras eleições com teto de vidro tendo que justificar o ‘vale tudo em nome do poder’ e ‘os ataques do passado’”, argumenta.

Segundo Cioccari, o ideal para Lula agora seria um ou uma vice mais “low profile”. “Um empresário ou uma mulher alinhada à esquerda seria uma alternativa mais plausível”, sintetiza.

Para o cientista político da Universidade Federal do Ceará (UFC) Cleyton Monte, o arranjo é positivo para os dois políticos. Com a aliança, Lula demonstra estar em busca do centro moderado e consegue dialogar com o público mais conservador, ligado a Alckmin. Agregar o ex-tucano também ajuda a diminuir a resistência contra o petista em regiões historicamente mais ligadas aos PSDBistas, como São Paulo, Minas e o Sul do País.

“E pro Alckmin também que não tinha muito espaço pra crescer em São Paulo. Ele iria enfrentar uma concorrência muito forte pra governador e não tinha mais espaço no PSDB. Eu acho que é uma solução bem positiva para os dois”, avalia Monte.

Contudo, para que o projeto funcione, a dupla precisará fugir da marca de “unidade da política tradicional”, explica o cientista político. O rótulo será aplicado tanto pela campanha de Bolsonaro (PL) quanto pela de Sérgio Moro (Podemos), que têm um eleitorado ideologicamente semelhante. Para chegar nos bolsonaristas arrependidos, a chapa Lula-Alckmin precisa apresentar um projeto novo, que atraia eleitorado de centro e com proposta de resgate da economia nacional, diz Monte.

Emanuel Freitas, professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece), analisa que, pela primeira vez, a esquerda poderá estar aglutinada em uma só candidatura. Isso porque o Partido Socialismo e Liberdade (Psol) estará com a chapa de Lula e a candidatura, segundo ele, não cobre a maioria dos eleitores de esquerda.

A “esquerda sozinha não elege presidente”, avalia Freitas. Ele lembra que primeiro Lula teve José de Alencar, do PL, atual partido de Bolsonaro, como vice, e depois Dilma veio com Michel Temer (MDB), ambas agremiações de centro.

Freitas repete que Lula precisa ganhar esse eleitorado de centro para evitar que ele caia novamente “nos braços” do presidente Jair Bolsonaro. O professor acredita que os possíveis prejuízos podem vir mais para Alckmin, que tende a perder eleitorado ao se juntar com Lula.

“O Lula tem o eleitor de esquerda, nessa eleição de 2022 por assim dizer, fechado com ele. Ele é, para este eleitor, anti-Bolsonaro por excelência”, diz. Dessa forma, Lula com Alckmin não perderia essa parcela do eleitorado, avalia. Já o ex-tucano pode se comprometer com a parcela mais conservadora ao se juntar com o petista. “Então, dos dois, me parece que quem pode ter prejuízo é o Alckmin e não o Lula”, sintetiza.

(*) O POVO

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