Iranildo Pereira, a ata não escrita



Por João Soares Neto

Não fui amigo próximo, tampouco partidário do político Iranildo Pereira (de Oliveira). Nunca me filiei a nenhum partido.

Fomos contemporâneos, por dois anos, na Faculdade de Direito, quando fazíamos política universitária, no Centro Acadêmico Clovis Bevilácqua.

Após as suas andanças por toda a geografia do Ceará, das suas centenas de voos nas idas e vindas de Brasília, a cidade dos políticos maiores e menores do Brasil, esse de tanta desigualdade, aquietou-se, um pouco.

Foi, sempre, defensor dos menos favorecidos e dos injustiçados. Já na maioridade, pós vida pública, frequentou o emergente Clube do Bode, em Fortaleza. Esse clube anárquico, cult, brega, falador das vidas de membros da própria grei e da alheia, da política, da economia, das artes e da cultura.

Pessoas ocupadas, formações distintas, alguns vaidosos e amostrados, todos capazes e lidos, com idades próximas. Não se agrediam, discutiam com ironia ou não, agregavam-se e complementavam-se em saberes, futricas e livros, o nosso bem maior.

Iranildo possuía voz de tribuno. Forte, ardente. Os olhos verdes acompanhavam duros/singelos a sua plateia.

Sob o largo acolhimento do Sérgio Braga, anfitrião e pai de chiqueiro maior, e os olhos críticos do Audifax Rios, pena afiada, cabeça privilegiada de redator oficial das atas caprinas, inclusive, com charges e caricaturas, faziam parte permanente: Lúcio Alcântara, Barros Pinho, Juarez Leitão, Lustosa da Costa, Erasmo Pitombeira, Edmo Linhares, Paulo Braga, Arnaldo Santos, Roberto Moreira e este João Soares, sem falar em aparições emergentes/ocasionais de alguns em busca de acolhimento e de exposição. Além, claro, do referido anfitrião e do nosso Pero Vaz Caminha, escrivão sutil e mordaz, Audifax Rios. Alguns já no eterno.

As atas, com desenhos e caricaturas, são preciosas e engrandeceriam a Secult-Ce, se fossem adquiridas da família do Audifax e publicadas, quem sabe, com o título: “Atas da irreverência de cultos e de outros.”

Tudo acontecia nos fundos-escritório da “Livraria Livro Técnico”, ao lado do popular “Flórida Bar”, de cadeiras e mesas de plásticos, garçons ‘vivos’ como o Deinha.

Pois bem, Iranildo era um desses bodes.

Dialética forte, bebida moderada e visão atenta da política, mesmo já distante da Assembleia Estadual do Ceará e da Câmara dos Deputados, casas das quais participou por dezenas de anos, onde sempre se houve com presença e conteúdo. Orgulhava-se de ter sido membro do “velho Modebra” e do autêntico MDB.

Era amigo pessoal da ‘maior figura do Parlamento brasileiro’, Ulisses Guimarães, sobre quem contava histórias/estórias públicas e privadas.

Aqui e lá, foi colega de Paes de Andrade, Mauro Benevides, Dorian Sampaio, Barros Pinho, Juraci Magalhães, Roberto Pessoa e outros.

Foi assim: já quase aquietado, quando entrou - para ficar - no Clube do Bode, sempre, com a doce vigilância telefônica da amada esposa, Maria do Carmo, e de suas filhas.

Já era, de há muito, hoteleiro e, depois locador de bela pousada, lá para as bandas das praias, dos coqueirais e dos morros brancos desta terra que amava, desde o Cariri, de tantas batalhas, incorporando, depois, todo o Ceará, por onde andava, pregando suas ideias e somando milhares de votos.

Em 2017, acossado com humor pelos colegas do Bode, aceitou escrever uma espécie de história vivida. “Eita, Pau Pereira!”, leia-o, por favor. Editado pela RDS, de filhos de Dorian Sampaio, seu companheiro de vida política. Foi saudado carinhosamente por Lúcio Alcântara, no dia 03 do mês de agosto daquele ano de 2017.

Anteontem, no seu velório, o encontrei de terno escuro e gravata, semblante sóbrio, escanhoado, ladeado pela família, amigos e colegas como se já estivesse pronto para pleitear a sua candidatura celestial e reencontrar a alma do Ulisses Guimarães, tragado, em acidente de helicóptero.

Quem sabe, as almas deles possam estar em conversa, velando pelo sempre futuro grandiloquente deste Brasil tão desigual.

Foi como homem forte. Descanse.

Escrito por João Soares Neto, sem revisão de forma e de conteúdo, ao correr do dedo indicador da mão esquerda, no celular. Ao cair da noite de sexta-feira, O8 de julho de 2022.

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