Em 1º março de 1985, a eleição pela presidência da Assembleia Legislativa do Ceará (Alece) foi marcada por uma disputa acirrada por voto, divisão interna na base governista, tumulto generalizado e agressões físicas e verbais. Foi nesse cenário que a vitória de Castelo de Castro ficou em segundo plano diante da morte do outro postulante: o deputado Murilo Aguiar, que infartou logo após ter o próprio voto anulado e a derrota sacramentada.
Visando o biênio 1985/1986, o pleito pelo cargo mais alto da Mesa Diretora da Alece colocou em lados opostos os deputados Castelo de Castro (PMDB) e Murilo Aguiar (PFL). O primeiro tinha como principais aliados o então presidente da Casa, Aquiles Peres Mota, e o senador Virgílio Távora. Já o segundo era representante direto da base do Governo, tendo como apoiadores o governador Gonzaga Mota e o vice Adauto Bezerra.
O "Baú da Política" é uma série de reportagens do Diário do Nordeste que explora a história política e social do Ceará. Nesta edição, o especial aborda figuras, eventos e processos marcantes dos 190 anos da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece), celebrado em 2025.
Até fevereiro de 1985, a vitória do grupo chamado “gonzaguista” era dada como encaminhada. Contudo, a divisão interna entre as alas governistas deixou a disputa aberta e aqueceu as articulações para definir quem conseguiria somar a maioria absoluta de 24 votos entre os 46 possíveis na votação secreta. Como noticiou o Diário do Nordeste no mês anterior à eleição pela presidência, o desfecho era incerto e caminhava para um empate.
“Ainda há uma outra preocupação e certeza, da parte dos dois grupos que disputam a presidência da Assembleia, quanto à possibilidade de alguns gonzaguistas, contrários ao acordo político entre o governador Gonzaga Mota e o vice-governador Adauto Bezerra e temerosos de que, Gonzaga Mota saia para um ministério do governo Tancredo Neves, votarão em Castelo de Castro, tentando demonstrar que o grupo adautista não votou no candidato do governo, e, dessa forma, dificultar o relacionamento entre Mota e Adauto”Edição do Diário do Nordeste de 11 de fevereiro de 1985
Foi nesse cenário de acirramento que o governador resolveu substituir o então candidato Antônio Câmara por Murilo, um dia antes da eleição. O motivo da troca: a idade. Em caso de empate de votos, o Regimento Interno da Alece previa que o mais velho seria eleito, o que daria vantagem a Aguiar, de 71 anos, contra Castelo Castro, 62.
Segundo fontes revelaram ao Diário do Nordeste à época, o próprio Murilo Aguiar manifestou resistência à indicação de Gonzaga Mota. "Governador, eu não tenho mais idade para isso. Veja onde o senhor está me colocando. Eu não tenho mais idade para o cargo. Isso vai ser um sacrifício para mim, porque eu sei que vou pegar um abacaxi”, teria dito o parlamentar, às vésperas da disputa que ficaria marcada pelo falecimento dele.
(*) Diário do Nordeste
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