O que se sabe sobre o ataque terrorista na Rússia



Um massacre em um complexo comercial nos arredores de Moscou deixou ao menos 133 pessoas mortas na sexta-feira (22).

A autoria do ataque foi admitida pelo Estado Islâmico. Quatro pessoas foram presas por ligação com a ação terrorista.

Confira o que se sabe até o momento sobre o ataque.
Como foi o início do ataque?

Pessoas armadas abriram fogo aleatoriamente no complexo Crocus City – que abriga uma popular casa de shows e um shopping center – na noite de sexta-feira (22).

A multidão ainda estava entrando, mas o auditório já estava lotado antes do show da banda Picnic. Cerca de 6.500 ingressos teriam sido vendidos para o show. Mas, em vez de uma noite dançando ao som de rock, o caos se desenrolou.

Testemunhas oculares em pânico capturaram em vídeo o exato momento em que homens armados, vestidos com uniformes camuflados e portando armas automáticas, começaram a atirar indiscriminadamente. A filmagem mostrou espectadores gritando e se escondendo atrás de assentos enquanto outros se amontoavam enquanto tiros ecoavam pelo vasto salão.

Durante a violência, um grupo que se abrigava próximo a uma grande parede de vidro do lado de fora da casa de shows foi forçado a quebrá-las para escapar dos tiros, mostra um vídeo obtido pela CNN.

Uma testemunha anônima que sobreviveu ao ataque disse que os homens armados entraram na sala de shows e “começaram a atirar em todo mundo”.

“Eu estava sentado no corredor lá em cima, onde ficavam as varandas. Ouvimos tiros. No início, não entendemos o que tinha acontecido”, disse ele em entrevista a Ostorozhno Novosti, publicada pela Reuters. Ele acrescentou que os agressores jogaram um coquetel molotov, e então, “tudo foi incendiado”. Os artistas saíram ilesos.

As chamas ainda estavam atingindo o Crocus City no início do sábado (23) e o telhado do local desabou parcialmente. Quase 500 pessoas trabalhavam para desmontar os escombros no local, disse o Ministério de Emergências da Rússia.
Quantas pessoas foram mortas ou ficaram feridas?

Sabe-se que pelo menos 133 pessoas foram mortas, de acordo com a última atualização do Comitê de Investigação da Rússia no sábado. As autoridades dizem que esse número provavelmente continuará aumentando à medida que as equipes de emergência trabalham no local.

Além disso, mais de 100 outras pessoas ficaram feridas no incidente – muitas delas em estado grave, incluindo duas crianças.

O governador da região de Moscou, Andrey Vorobyov, disse no sábado (23) que as vítimas do ataque terrorista receberiam compensação financeira da região e dos governos municipais.

Os parentes de cada um dos mortos receberiam três milhões de rublos (cerca de R$ 162,5 mil), enquanto os feridos e hospitalizados receberiam um milhão de rublos (cerca de R$ 55 milhões).

“As crianças cadastradas na região de Moscou, cujo pai ou mãe morreu na tragédia, também receberão pagamentos mensais. Além disso, compensaremos a todos pelas despesas de enterro e resolveremos todas as questões legais”, acrescentou Vorobyov.
Quem estava por trás do ataque?

O Estado Islâmico assumiu a responsabilidade pelo ataque em um breve comunicado publicado pela agência de notícias Amaq, ligada ao grupo terrorista, no Telegram na sexta-feira (22).

No dia seguinte, o grupo publicou uma imagem na Amaq que pretendia mostrar os quatro homens que atacaram o complexo. Nenhum dos homens era identificável na imagem: todos usavam balaclavas e o que aparecia dos rostos estava desfocado.

O Estado Islâmico descreveu o ataque como o “mais feroz em anos”, de acordo com uma tradução da mensagem do SITE Intelligence Group, que monitoriza a propaganda de grupos terroristas.

A Amaq também forneceu detalhes do ataque, dizendo que três combatentes atacaram a multidão reunida no local com armas e facas, enquanto o quarto atirava dispositivos incendiários. Afirmou que o ataque foi precedido por uma intensa operação de vigilância do local.

Acrescentou que “o ataque surge no contexto normal da guerra violenta entre o Estado Islâmico e os países que lutam contra o Islã”.

Os Estados Unidos já haviam avisado Moscou que os militantes do Estado Islâmico estavam determinados a atacar a Rússia dias antes de os agressores invadirem a sala de shows.

No início deste mês, a embaixada dos EUA na Rússia disse que estava “a monitorar relatos de que os extremistas têm planos iminentes de atingir grandes concentrações em Moscou”, incluindo concertos, e alertou os cidadãos dos EUA para evitarem tais locais.

A porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, Adrienne Watson, disse que o governo americano “compartilhou esta informação com as autoridades russas de acordo com a sua política de longa data de ‘dever de avisar'”.

Mas, em um discurso na terça-feira (19), Putin classificou os avisos americanos como “provocativos”, dizendo que “estas ações assemelham-se a chantagem aberta e à intenção de intimidar e desestabilizar nossa sociedade”.

Especialistas disseram que a escala da carnificina seria profundamente embaraçosa para o líder russo, que defendeu uma mensagem de segurança nacional apenas uma semana antes, ao vencer as eleições organizadas no país.

Durante o último mês, a Rússia frustrou vários incidentes relacionados ao Estado Islâmico somente em março, segundo a agência RIA Novosti.

Houve pelo menos quatro incidentes relatados em toda a Rússia que as autoridades locais disseram envolver pessoas ligadas ao Estado Islâmico, de acordo com a agência.
O que mais a Rússia está dizendo?

Putin expressou suas profundas condolências após o tiroteio, descrevendo-o como um “ato sangrento e bárbaro” em um comunicado em vídeo divulgado no sábado.

Ele mostrou gratidão aos funcionários dos serviços de emergência que “fizeram tudo para salvar a vida das pessoas, para tirá-las do fogo, do epicentro do fogo e da fumaça”, e disse que as agências estavam trabalhando para estabelecer os detalhes do massacre.

Anteriormente, a mídia estatal russa informou que o chefe do Serviço de Segurança Russo, Alexander Bortnikov, havia dito ao líder russo que 11 pessoas haviam sido detidas em conexão com o ataque.

O Kremlin disse que quatro pessoas que se acredita estarem diretamente envolvidas no ataque foram presas enquanto tentavam cruzar a fronteira para a Ucrânia, segundo a TASS e outros meios de comunicação estatais.

Mais tarde, a RIA publicou a suposta confissão de um dos homens no Telegram. Em um breve vídeo, um homem com a cabeça ensanguentada e enfaixada fala em russo hesitante. Ele informa seu nome e idade, 30 anos. Quando questionado sobre onde foram deixadas as armas do ataque, ele responde: “Não conheço a cidade, pergunte aos meus amigos, eles sabem”.

A CNN não pôde verificar de forma independente a veracidade do relatório da RIA Novosti ou das declarações feitas pelo alegado agressor, que podem ter sido feitas sob coação.

A RIA também publicou imagens de três dos supostos agressores depois de terem sido detidos, imagens que correspondem a vídeos enviados em canais não oficiais no início do sábado, mostrando os homens sendo detidos na região sudoeste de Bryansk.

Nenhuma imagem ou vídeo do quarto suposto agressor foi publicado na mídia estatal russa.

A RIA disse que um dos supostos agressores mencionou ter retornado da Turquia para a Rússia no início deste mês.

Também informou que o grupo vivia junto num albergue no norte de Moscou e que pelo menos dois dos quatro perpetradores se encontraram apenas “10-12 dias atrás”. O carro que eles dirigiram até o local e depois usaram para escapar foi comprado por meio de uma ligação familiar.

Putin também pareceu atribuir a culpa à Ucrânia pelo ataque mortal em sua mensagem de vídeo no sábado, quando afirmou que uma “janela” foi preparada para os agressores escaparem para a Ucrânia.

A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, disse no Telegram: “Agora sabemos em que país esses malditos bastardos planejavam se esconder da perseguição – Ucrânia”.

A Ucrânia negou veementemente qualquer envolvimento. O Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia disse na sexta-feira (22): “Consideramos que tais acusações são uma provocação planejada pelo Kremlin para alimentar ainda mais a histeria anti-ucraniana na sociedade russa, criar condições para uma maior mobilização de cidadãos russos para participarem na agressão criminosa contra o nosso país e desacreditar A Ucrânia aos olhos da comunidade internacional.”

A Inteligência de Defesa Ucraniana alegou na sexta-feira (22) – sem fornecer provas — que o ataque foi planejado pelos serviços especiais russos para justificar o aumento dos ataques à Ucrânia.
Qual tem sido a resposta internacional?

A condenação do ataque por parte dos líderes mundiais foi rápida. O secretário de Estado americano, Antony Blinken, disse no sábado que os EUA condenam “fortemente” o massacre e transmitem “as mais profundas condolências às famílias e entes queridos dos mortos e de todos os afetados por este crime hediondo”.

Houve sentimentos semelhantes por parte do ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, David Cameron, em nome do Reino Unido, e do chanceler alemão, Olaf Scholz, que transmitiu que os “pensamentos da sua nação estão com as famílias de todas as vítimas e todos os feridos”.

O primeiro-ministro polaco, Donald Tusk, disse que o seu país espera que o ataque não se torne “um pretexto para alguém aumentar a violência e a agressão” numa publicação no X. Enquanto isso, o presidente francês, Emmanuel Macron, expressou solidariedade com todos os russos, enquanto o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, e o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, também criticaram o ataque.

O líder chinês Xi Jinping apresentou as suas condolências a Putin no sábado “pelo grave ataque terrorista que causou pesadas baixas”, de acordo com um relatório da mídia estatal chinesa.

Entretanto, o Conselho de Segurança das Nações Unidas classificou-o como um ataque “hediondo e covarde”, já que o secretário-geral António Guterres condenou o incidente “nos termos mais fortes possíveis”.

*Colaboraram Anna Chernova, Darya Tarasova, Tim Lister, Mariya Knight, Mia Alberti, Jennifer Hauser, Paul Murphy, Matthew Chance, Mary Kay Mallonee, Katherine Grise, Chris Lau e Samantha Waldenberg


(*) CNN BRASIL

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