A vacina contra pólio se tornou mais urgente que a da covid-19?

Apesar dos baixos índices de imunização contra a poliomielite em Fortaleza, não há sobreposição de urgências, apontam especialistas ouvidos pelo OPINIÃO CE.
Em 1994, o Brasil recebeu o certificado de eliminação da pólio da Organização Panamericana de Saúde (Opas). Na ocasião, a estratégia adotada para a eliminação do vírus no país foi centrada na realização de campanhas de vacinação em massa contra a poliomielite. Desde então, a doença é considerada erradicada.

Contudo, a existência de casos no Paquistão e no Afeganistão preocupa especialistas e autoridades sanitárias, que apontam a manutenção das altas taxas de cobertura vacinal contra a doença como a única forma de evitar que ela retorne. Este fato leva ao questionamento: é possível dizer que neste momento a vacinação contra a poliomielite se tornou mais urgente que a contra a covid-19?

Ao OPINIÃO CE, especialistas ponderam a importância da cobertura vacinal contra a pólio, o possível retorno da doença caso a meta de imunização não seja alcançada e a urgência da imunização contra a paralisia infantil comparada a da covid. Ligia Kerr, epidemiologista e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), enxerga que, apesar dos importantes avanços no último mês, a cobertura vacinal ainda está muito abaixo do ideal.

No Brasil, somente cerca de 66% das doses do imunizante foram aplicadas. A especialista revela que existe um risco da doença voltar ao Brasil caso a meta da cobertura não seja alcançada. “No Brasil nós ainda temos a presença do vírus vacinal, que pode sofrer mutações e tornar-se nocivo para aqueles que não receberam a imunização por meio oral, que são as gotinhas que contém o vírus da pólio inativado.”

A docente aponta ainda que não é possível mensurar que a vacinação contra a covid é menos urgente que a vacinação contra a pólio. Contudo, diz que a alta taxa de aplicação de ambos imunizantes é fundamental para a segurança das crianças brasileiras.

“A covid matou mais crianças que não foram vacinadas contra ela do que todas as doenças imunopreviníveis nos últimos dez anos. A pólio deixou sequelas e matou milhares de crianças antes de ser erradicada no Brasil. Então, não é possível dizer que uma é mais importante que a outra.”

Luciano Cavalcante, também epidemiologista, explica que, apesar da pandemia ter preocupado o Brasil e o mundo nos últimos anos, o combate a doenças imunopreveníveis, como a pólio, ainda é fundamental para a saúde pública. O especialista indica que manter o poliovírus selvagem erradicado no país é um esforço que deve ser feito por meio do aumento da taxa de cobertura vacinal contra a poliomielite.

EM FORTALEZA
Para o combate à poliomielite, a meta definida pelo Ministério da Saúde é de 95% para a vacina de rotina, aplicada aos 2, 4 e 6 meses de idade. Em Fortaleza, a expectativa, de acordo com informações fornecidas pela Secretaria Municipal da Saúde (SMS), é de que 130 mil crianças sejam imunizadas com a dose extra contra a paralisia infantil.

Até o momento, somente 67.517 mil crianças foram vacinadas, número equivalente a 52% do público esperado. Em relação à dose de rotina, o índice de vacinação no município, até setembro deste ano, é de 85%, também abaixo da meta nacional de cobertura vacinal.

De acordo com Vanessa Soldatelli, coordenadora de Imunização de Fortaleza, a Capital possui duas estratégias de vacinação que funcionam simultaneamente para contemplar tanto a vacinação de rotina quanto o reforço com a dose extra, feito por meio de campanha, a qual conta com a adesão de somente 52%.

Oficialmente, a campanha já foi encerrada. No entanto, medidas dentro dela ainda serão tomadas para que a maior quantidade possível de crianças seja vacinada, até o próximo dia 31. A coordenadora considera a alta cobertura vacinal contra a poliomielite importante.

Contudo, a gestora não pensa que, mesmo neste momento, no qual as expectativas de vacinação não estão sendo alcançadas, a urgência da aplicação de vacinas contra a pólio seja mais urgente que a aplicação de imunizantes para outras doenças, como a covid.

“Todas as vacinas têm a mesma urgência. O Brasil é o país que mais tem vacinas disponíveis na rede pública para a população. Então, evitar a paralisia infantil é tão importante quanto evitar o sarampo, a meningite, a pneumonia, o HPV, o rotavírus e a covid”, explica.

NO CEARÁ
No Ceará, o poliovírus selvagem foi isolado pela última vez em maio de 1988, no município de Crateús. No Estado, de acordo com dados disponibilizados pela Secretaria de Saúde do Ceará (Sesa), 427.022 mil doses do imunizante contra a pólio foram aplicadas em crianças entre um e quatro anos. Esse número equivale a 82,8% do total de doses que eram esperadas.

Em comparação com outros estados do Nordeste, o Ceará fica atrás somente da Bahia (494.892) em doses aplicadas. Na taxa de cobertura vacinal, o Estado está atrás de Alagoas (85,4%) e da Paraíba (99,7%), que alcançou a meta nacional de vacinação definida pelo MS.

Related Post

A vacina contra pólio se tornou mais urgente que a da covid-19? BLOG DO CARLOS DEHON Rating: 5 quarta-feira, 26 de outubro de 2022

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...